Pesquisa recente reafirma relação entre
ansiedade entre jovens e dependência química tratada pelo autor em "O
Bonequinho"
O aumento
na parcela de jovens que relatam consumo abusivo de álcool no Brasil vem
acompanhado do crescimento do sofrimento mental. Quase um terço dos
jovens entre 18 e 24 anos (31,6%), o que representa 5,5 milhões, já teve
diagnóstico médico de ansiedade. Outros 14,1% (2,4 milhões), de depressão. Eles
também relataram consumo abusivo de álcool (32,6%) nos 30 dias antes da
entrevista para o estudo — quatro doses ou mais para mulheres, e cinco doses ou
mais para homens, em uma mesma ocasião. Em 2022, a prevalência foi de 25,8%.
Os dados
são do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças
Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), que ouviu 9.000 brasileiros
de janeiro a abril de 2023 sobre vários fatores de risco para doenças
crônicas, entre os quais o consumo de álcool.
“Há uma
glamourização sofisticada ornamentando a publicidade do álcool — que mistura
sensualidade, liberdade e alegria. É olhar para as propagandas em que uma
eterna juventude namora, festeja e comemora aquelas poucas horas de libertação
dos dias anteriores do trabalho em horário comercial, feito por obrigação.
Todos queremos ser assim — e é quase consequência necessária do viver que
experimentemos bebidas alcoólicas”, analisa Paulo Leme Filho. Prestes a lançar
seu mais recente livro, O
Bonequinho, onde aborda a relação entre o sofrimento
mental de jovens e a dependência química.
“Acredito
que a experiência de quem precisou se encarar em um contexto de dependência
química pode ser aproveitado para a superação de outras dificuldades não menos
graves, como as que vemos atualmente entre crianças e adolescentes”, diz o
advogado, abstêmio há 27 anos.
Para
enfatizar a importância do tema ele traz os dados de outro estudo, do
Ministério da Saúde feito a partir de pesquisa da USP com hospitais e médicos.
“No Brasil, entre 2.016 e 2.021, o suicídio aumentou em 45% na faixa entre 10 e
14 anos de idade - e só na cidade de São Paulo, todos os dias, dez jovens de
até 19 anos automutilam-se ou tentam acabar com a própria vida (muitas vezes,
infelizmente, o conseguindo). É preciso olhar para isso e reconhecer que
estamos falhando como sociedade”.
O
Bonequinho
Paulo
Leme Filho explica que se trata da “autoimagem” de cada adicto, que vai se
modificando na medida em que o uso das drogas vai se intensificando. “Nossa
experiência pessoal, acrescida de outras que testemunhamos ao longo de alguns
anos de recuperação, nos mostra que, sob a insanidade, ninguém se enxerga do
modo em que irá se enxergar quando estiver em abstinência. E aquilo que na
abstinência será visto dificilmente irá agradar ao paciente”.
“O
segredo”, prossegue, “é saber como desconstruir esse bonequinho”.
Sobre o
autor
Paulo
Leme Filho, paulistano de 52 anos, é graduado em Direito pela USP, com MBA em
Gestão da Saúde pela FGV-SP. Advogado militante e pai de dois filhos, ele
escreveu, junto com seu pai, Paulo de Abreu Leme, o livro “A Doença do
Alcoolismo”, lançado em 2015. Em abstinência absoluta de álcool e outras drogas
há 27 anos, Paulo se converteu ao espiritismo em março de 2020. Hoje divide seu
tempo entre a convivência com os filhos, a atividade profissional, a realização
de trabalhos no campo assistencial e o estudo da Doutrina
Espírita.