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Quase 7 em cada 10 adultos brasileiros já se internaram ao menos uma vez com asma grave

SAÚDE

Pesquisa analisa o perfil de quem vive com a condição e mostra a necessidade de ampliar o acesso às novas terapias

Além de falta de ar e dificuldade para respirar, a asma provoca tosse seca, chiado no peito e sensação de pressão nos pulmões. - Adobe Stock

Um estudo inédito aponta que 69% dos adultos de 18 a 59 anos já foram internados por asma grave ao menos uma vez. Destes, 21% precisaram de terapia intensiva, 7,3% permaneceram na UTI acima de duas vezes, 12% foram intubados e 7,3% tiveram parada cardiopulmonar.
Na faixa acima de 60 anos, as internações pela doença representam 68% —23% ficaram na UTI, 8,9% por duas ou mais vezes, 14% necessitaram de intubação e 8,1% sofreram parada cardiopulmonar.
Nos dois grupos, os pacientes ficaram internados, em média, dez vezes na vida.
Em menores de 18 anos, 74% necessitaram de internação em decorrência da asma grave, e 31% esteve na UTI – 11% foram intubados. Em 4,4%, o quadro resultou em parada cardiopulmonar. Nesta faixa, a frequência de hospitalização caiu pela metade, ou seja, cerca de cinco.
Segundo o levantamento, em 63% dos pacientes adultos a doença não estava controlada, situação igual a 44% dos jovens e 52% dos idosos analisados.
Os números fazem parte do resultado da primeira fase do Rebrag (Registro Brasileiro de Asma Grave), que avaliou 487 pacientes a partir de seis anos com asma grave. Eles foram recrutados em 23 centros de referência para tratamento de asma pertencentes ao SUS (Sistema Único de Saúde).
Dos avaliados, 159 são menores de 18 anos —40% do sexo feminino; 205 têm de 18 a 59, e 123 pacientes estão acima de 60 anos, enquanto as mulheres representam 70% de cada um dos dois últimos grupos (adultos e idosos). Todos passaram por uma consulta inicial e serão acompanhados por cerca de dez anos, com visitas anuais. Ao longo do tempo, o projeto incluirá mais participantes.
Na primeira consulta, o Rebrag também questionou os pacientes em relação ao fumo e sedentarismo.
Apenas 1% dos adultos e 3,3% dos idosos fumam; 86% dos adultos e 68% dos idosos negaram o vício; 13% dos participantes de 18 a 59 anos e 29% acima de 60 afirmaram ser ex-fumantes.
Metade dos pacientes menores de 18 anos relatou ser sedentário, condição observada em 71% dos adultos de 18 a 59 anos e em 69% dos idosos.
Conduzida pelo Grupo BraSA (Grupo Brasileiro de Asma Grave) – uma associação composta por especialistas em asma grave do Brasil – a pesquisa pretende mostrar o perfil de quem tem a forma grave da doença no país.
Na primeira parte – de julho de 2021 a setembro de 2023 -, foram analisados dados clínicos, função pulmonar, biomarcadores fenotípicos e terapias prescritas.
O estudo segue os critérios da GINA (Global Initiative for Asthma), que classifica a gravidade da doença com base na quantidade e na dose de medicações que conseguem levar o paciente ao controle.
A remissão clínica após 12 meses de uso de biológico ou terapia tripla foi definida como doença controlada, ausência de exacerbações graves e do uso de corticoide nos últimos 12 meses.
 
MAIORIA DOS ASMÁTICOS TEM RINITE ALÉRGICA
Dos pacientes estudados, 94% dos menores de 18 anos e 70% dos maiores relataram ter rinite alérgica.
Outros problemas mais relatados pelos jovens foram ansiedade (33%) e dermatite atópica (43%).
Nos adultos acima de 18 anos, além da ansiedade (35%), obesidade (42%), pressão alta (45%) e refluxo gastroesofágico (48%) foram os que mais apareceram.
 
TRATAMENTO É UM DESAFIO
O Rebrag chama a atenção para a necessidade de tratamento individualizado e contínuo com terapias inovadoras. A pesquisa apontou que 17% dos menores de 18 anos e 40% dos adultos utilizam imunobiológicos para tratarem asma grave há 21 e 38 meses, em média, respectivamente.
O estudo concluiu que a remissão clínica após início destes medicamentos é uma realidade para 22% dos pacientes adultos com asma grave.
“Hoje tem medicamento [biológico] disponível para controlar a doença de praticamente todos os pacientes. Aqueles que estão graves sofrem muito. Ainda é um desafio fazer com que todos tenham acesso”, afirma Paulo Pitrez, pneumologista pediátrico da Santa Casa de Porto Alegre e coordenador científico do estudo. Segundo ele, é provável que os centros de referência não estejam prescrevendo corretamente, podem ter atrasos no diagnóstico ou ainda a equipe médica achar que os pacientes não têm indicação.
“Com tudo o que a gente tem de [oferta] de medicamentos, o desafio é fazer com que o papel principal seja a educação sobre a doença para profissionais, médicos e até pacientes mesmo, para eles saberem que a asma deve ser tratada adequadamente. É uma falha a atenção primária não detectar os pacientes. A asma é muito prevalente”, afirma Pitrez. Segundo o médico, cinco a sete pacientes morrem por dia por asma.
No Brasil, cinco imunobiológicos estão liberados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratamento da asma grave: benralizumabe, dupilumabe, tezepelumabe, omalizumabe e mepolizumabe – os dois últimos incorporados ao SUS pelo Ministério da Saúde.
O Rebrag – apoiado pela AstraZeneca, Sanofi, GSK e Novartis – foi apresentado no congresso da ATS (American Thoracic Society), em San Diego, nos Estados Unidos, em maio de 2024.
 
CAUSA ENVOLVE FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS
A asma é um processo inflamatório das vias respiratórias que causa o estreitamento dos brônquios — canais por onde passa o ar nos pulmões. A doença provoca tosse seca, chiado no peito, sensação de pressão nos pulmões, falta de ar e dificuldade para respirar. A pessoa afetada pela condição possui mais dificuldade para expelir o ar dos pulmões do que para inspirar, o que dá a sensação de sufocamento.
O agravamento da asma está ligado a crises alérgicas, contato com fumaça, gases químicos, produtos de limpeza com cheiro forte, perfumes, infecções virais, poluição, exposição ao tempo frio, pólen e a microrganismos, como ácaros e fungos, que se proliferam em ambientes com muita poeira, quentes e úmidos. A causa é desconhecida e, segundo especialistas, envolve fatores genéticos e ambientais.
Segundo o pneumologista Paulo Pitrez, na asma grave a frequência de sintomas é constante, como por exemplo acordar várias vezes à noite com tosse e falta de ar. Outro sinal é uma limitação importante para atividade física e atividades do dia a dia, como subir dois lances de escada faltar o ar.
Os números do Rebrag foram apresentados na manhã de terça-feira (23), em São Paulo, durante evento para reforçar a campanha da AstraZeneca, “Asma grave: cuidar é o pulo do gato”, criada há três anos.
Neste ano, a ação traz como embaixador o ex-atleta brasileiro de natação e medalhista olímpico, Fernando Scherer, o Xuxa, que é asmático. Através das suas redes sociais e da AstraZeneca, ele levará ao público o projeto “Diário do Xuxa”, que terá vídeos curtos com informações sobre asma grave.

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