INVESTIGAÇÃO
Reclassificação ocorre após análise de novas evidências que indicam conduta de risco extremo por parte da motorista
O delegado Valdir Alves de Oliveira, da Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Rio Pardo, reclassificou o caso envolvendo Glauce Cristina Alves Gazola, condutora de uma caminhonete Toyota Hilux que colidiu com uma motocicleta, resultando na morte do trabalhador José Basílio. Inicialmente, a conduta de Glauce foi tipificada como homicídio culposo, caracterizado pela ausência de intenção de matar. No entanto, após a análise de novas evidências, o delegado decidiu enquadrá-la como homicídio doloso, na modalidade de dolo eventual, que se aplica quando o agente assume o risco de causar a morte.
Essa reclassificação de homicídio culposo para doloso é significativa, pois implica que Glauce Cristina poderá enfrentar consequências jurídicas mais severas. No dolo eventual, o indivíduo não deseja diretamente o resultado fatal, mas adota uma conduta tão negligente ou imprudente que assume o risco de que ele ocorra.
O despacho do delegado Valdir Alves de Oliveira detalha as evidências cruciais que justificaram essa alteração na tipificação penal. Foram obtidas imagens de segurança que mostram Glauce Cristina comprando cerveja em um pesqueiro por volta do meio-dia no dia do acidente, e Gabriel Aparecido, que estava como passageiro na caminhonete, adquirindo bebidas alcoólicas em um posto de combustível às 20h28. Essas imagens indicam que os investigados estavam sob efeito de álcool no momento do acidente.
Além disso, laudos técnicos desempenharam um papel fundamental na reclassificação do crime. O laudo necroscópico da vítima descreve lesões graves, incluindo escoriações por arrasto e uma hemorragia cerebral, que indicam a violência do impacto. Outro laudo, referente ao local do acidente, revela que a caminhonete colidiu em alta velocidade com a motocicleta, deformando a roda traseira e causando danos significativos ao para-brisa e capô do veículo. Essas evidências contrariam as alegações de Glauce e Gabriel de que não perceberam que haviam atingido um motociclista.
Testemunhas oculares também contribuíram para a nova avaliação do caso, relatando que a caminhonete Toyota Hilux foi vista ultrapassando a motocicleta em alta velocidade e fugindo rapidamente do local, sem prestar socorro à vítima.
Com a nova tipificação, Glauce Cristina Alves Gazola poderá ir a júri popular.
Relembre o caso
Na noite do último dia 16, um trágico acidente envolvendo uma caminhonete e uma motocicleta resultou na morte de João Basílio Ferreira dos Santos, de 59 anos, na Rodovia Vicinal Plácido Lorenzetti, zona rural de Santa Cruz do Rio Pardo. O caso, que gerou comoção e revolta, levanta questionamentos sobre a condução do procedimento policial e o tratamento dado à motorista envolvida, Glauce Cristina Alves Gazola, de 41 anos.
De acordo com o boletim de ocorrência, Glauce Cristina, que conduzia uma Toyota Hilux preta, colidiu violentamente na traseira da motocicleta Honda XLR 125 dirigida por João Basílio. O impacto foi tão forte que a vítima foi lançada à lateral direita da rodovia, onde ficou imobilizada devido aos graves ferimentos.
O que causa perplexidade é que, após o acidente, Glauce evadiu-se do local sem prestar socorro à vítima. João Basílio foi socorrido por usuários da rodovia que acionaram o SAMU. Ele foi levado para a UPA, sendo posteriormente transferido para a Santa Casa de Cruz de Rio Pardo, onde faleceu às 03h50 do dia seguinte, em decorrência de “politraumatismo contuso”.
Horas após o acidente, policiais militares localizaram Glauce Cristina em sua residência, no bairro Chácara Peixe, em Santa Cruz do Rio Pardo. De acordo com o boletim de ocorrência, a motorista apresentava sinais de embriaguez, mas se recusou a realizar o teste do bafômetro. Ela foi detida e apresentada ao delegado Gabriel Ulisses Salomão, no plantão da Polícia Civil em Ourinhos. Em um procedimento no mínimo controverso, Glauce também se recusou a fazer a coleta de sangue para o exame de alcoolemia. Por conta disso, foi realizado apenas o teste clínico, que avalia as ações e reações da pessoa, quase quatro horas depois de ser apresentada na delegacia, às 01h59 da madrugada de sábado, 17 de agosto, sendo que o B.O foi lavrado às 22h33 da noite de sexta-feira. Já haviam se passado, portanto, seis horas desde o atropelamento.
A demora na realização do exame, que deveria ser imediato para garantir maior precisão, levanta suspeitas sobre a concessão de tempo para que os efeitos do álcool diminuíssem no organismo da suspeita. Além disso, de acordo com informações, Glauce foi conduzida ao IML para a realização do exame sem a presença de nenhuma autoridade policial, sendo levada ao em um carro particular, supostamente dirigido por seu advogado.
O laudo do teste clínico indicou hálito etílico e sinais de consumo de álcool, mas concluiu que a condutora não estava embriagada.
O caso torna-se ainda mais controverso quando, apesar da gravidade do acidente e dos sinais de consumo de álcool identificados tanto pelos policiais militares no local dos fatos quanto pelo exame clínico, a suspeita não foi presa em flagrante.
Glauce Cristina Alves Gazola alegou, em seu depoimento, que não percebeu o que havia atingido quando sentiu um forte impacto frontal em sua caminhonete. Segundo ela, o local onde ocorreu o acidente era muito escuro e sem iluminação, o que dificultou a identificação do que havia colidido com seu veículo. Glauce afirmou que, por medo de parar em um local ermo e escuro, decidiu dirigir até sua residência para relatar o ocorrido ao seu esposo e, possivelmente, ligar para a polícia.
Ela também disse que, ao chegar em casa, foi surpreendida por alguns jovens que começaram a chutar o portão e gritar para que saísse. Glauce reiterou que não teve noção de que havia colidido com uma motocicleta e que o impacto ocorreu na sua faixa de rolamento. Por fim, ela afirmou que não parou no local do acidente por medo do que poderia acontecer com ela naquela situação.
Agora, o inquérito será conduzido pelo delegado Valdir Alves de Oliveira, que terá a missão de apurar, de forma justa e completa, as circunstâncias do acidente e a responsabilidade da motorista. A investigação também deve esclarecer a conduta do passageiro da caminhonete, Gabriel Aparecido Mateus Camilo, que também poderá responder por omissão de socorro.
Fonte: Página D