Ursinho Elo foi criado em 2014, no Hospital Amaral Carvalho (HAC) de Jaú (SP). Em 2024, dez anos depois, o projeto se tornou uma marca da unidade para ações com pacientes. O Portal conversou com o Théo, hoje com 15 anos, que foi uma das primeiras crianças a participar da iniciativa.
Projeto de ursinhos de pelúcia que levam mensagens de familiares para crianças em tratamento oncológico no interior de SP completa dez anos — Foto: Alan Schneider/g1
Há dez anos, o Hospital Amaral Carvalho (HAC) de Jaú (SP) lançou um projeto que aproxima famílias e amigos de pacientes pediátricos em tratamento oncológico.
O Ursinho Elo, criado em 2014, é um urso de pelúcia equipado com um dispositivo tecnológico que permite transmitir mensagens gravadas previamente por meio de um aplicativo, oferecendo conforto aos pequenos internados.
Na época do lançamento, aplicativos de mensagens e videochamadas ainda não eram tão populares, especialmente entre crianças. Isso dificultava a comunicação com parentes e amigos, que muitas vezes viviam a quilômetros de distância, já que o HAC é referência no tratamento de câncer, recebendo pacientes de todo o Brasil.
O funcionamento da iniciativa era simples: no início da internação, a família da criança recebia o número de um celular instalado dentro do urso. Assim, podia enviar mensagens que eram reproduzidas quando a criança apertava a barriga da pelúcia.
Ao final da internação ou do tratamento, a criança recebia uma versão do urso sem o dispositivo eletrônico, que podia levar para casa.
Símbolo do projeto
Diagnosticado com leucemia aos três anos, Théo Manzini foi uma das primeiras crianças a participar do projeto — Foto: Arquivo pessoal
Diagnosticado com leucemia aos três anos, Théo Manzini foi uma das primeiras crianças a participar do projeto. Hoje, aos 15, ele já está curado e, em 2025, deve receber alta do tratamento preventivo, que é realizado durante 10 anos após a alta hospitalar.
Em entrevista ao Portal, o adolescente relembrou os momentos difíceis que viveu com a família no hospital.
"Quem sentiu mais os problemas foram meu pai e minha mãe. Eu tenho poucas memórias, mais dos enfermeiros tendo dificuldades de pegar acesso na minha veia, essas coisas. Mas eu tenho muitas boas recordações de todo o cuidado que eu tinha pelos enfermeiros, pelos médicos, minha família", explica.
Théo também lembra como foi receber o ursinho pela primeira vez e diz que foi muito apegado a ele mesmo anos depois do tratamento.
"Eu dormia com ele até pouco tempo. Até que, em um momento, ele já estava bem gasto e eu recebi um novo, que está guardado lá em casa, com muito carinho", conta.
Théo lembra com carinho dos momentos que viveu no hospital com sua família, médicos e enfermeiros, além do ursinho — Foto: Arquivo pessoal
Théo foi o garoto-propaganda do projeto em uma campanha lançada em 2014. No vídeo, ele recebeu uma mensagem dos amigos da escola. O adolescente lembra o quão significativa foi aquela mensagem, já que passava muitos dias sem ir à aula devido às internações e sessões de quimioterapia.
"Foi um presente. Eu sempre gostei muito de ir para a escola e estar com meus amigos, e, quando eu ouvi essa mensagem, fiquei surpreso! A gente sempre espera mensagem dos familiares, parentes, mas, quando eu ouvi que eram meus amigos, eu fiquei muito feliz e pensei: que legal, meus amigos se reuniram para mandar uma mensagem para mim."
A propaganda do projeto fez sucesso em todo o Brasil e recebeu prêmios, além de ter sido tema de uma reportagem do Fantástico, da TV Globo. Assista:
Urso com mensagens de voz ajuda no tratamento de crianças com câncer
Sabrina Manzini, mãe de Théo, que também aparece no vídeo, conta que até hoje é reconhecida como "a mãe do Théo do ursinho".
"O ursinho foi um carinho de Deus para nós. Nesse processo de dez anos, eu ainda estou descobrindo a repercussão que aquilo tudo teve. Outro dia, na minha pós-graduação, me perguntaram se eu era a mãe do Théo. Para nós, independente de qualquer prêmio que o vídeo recebeu, o retorno de carinho, de amor que nós recebemos é o que eu quero levar para a minha vida", disse ao Portal.
Théo explica que vê a campanha como uma forma de contar sua história de superação para as pessoas e levar esperança a novos pacientes.
"Eu tenho certeza que ver todo esse carinho pelo ursinho, a história de superação nossa, é algo que incentiva outras famílias a continuarem lutando, continuarem crendo que a cura pode vir. Que as pessoas olhem e pensem: o menino do ursinho está bem, ele está curado", finaliza.
O jovem continuou compartilhando sua história e aproveitando seu talento para a comunicação, evidente desde pequeno. Hoje, ele alimenta uma rede social com vídeos religiosos e motivacionais.
Dez anos depois, uma nova campanha foi lançada para comemorar não apenas uma década do projeto, mas também uma década da cura de Théo. Veja:
Reestruturação
Com o passar dos anos, as tecnologias de comunicação tornaram-se mais acessíveis e avançadas, levando o projeto do Ursinho Elo a passar por uma reestruturação.
O Elo se transformou em uma marca da pediatria do HAC, servindo como um canal de comunicação para os pacientes, como explica Renato Fachim, consultor de marketing do hospital.
Projeto do Ursinho Elo passou por reestruturação em Jaú (SP) — Foto: Hospital Amaral Carvalho/Divulgação
"Ao longo de dez anos de projeto, o Ursinho Elo se tornou um porta-voz da pediatria para nossos pacientes, sempre levando coisas boas para eles. Passou de um simples áudio para plataformas de vídeo, entregues através de tablets, nos quais os pacientes podem acessar conteúdos de interesse, sempre com o consentimento dos responsáveis, e se comunicar com amigos e familiares por meio de videochamadas", disse em entrevista ao Portal.
Além disso, os ursinhos se transformaram em NFTs, ou tokens não-fungíveis, formando uma coleção exclusiva de cards digitais colecionáveis que podem ser resgatados por aqueles que apoiam financeiramente a instituição, incentivando, assim, as contribuições.
Hospital Amaral Carvalho aposta em coleção exclusiva de NFTs em campanha para arrecadar fundos — Foto: Reprodução/Lifeverso
No entanto, os ursinhos de pelúcia continuam a ser entregues às crianças durante o tratamento, preservando o símbolo de como o projeto começou.
"Hoje, a entrega da mascote ainda é mantida para os pacientes. Como a experiência lúdica da criança ouvindo o áudio de conhecidos através de um brinquedo é incomparável, nós seguimos buscando alternativas de materiais, novas tecnologias e parcerias financeiras para conseguir replicar essa experiência para mais crianças", explica o consultor.
Fonte: G1
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