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Fila para consultas pediátricas no SUS em Bauru ultrapassa décadas de espera, aponta levantamento

Ministério Público entrou com uma ação civil pública para exigir que o município aumente a oferta de vagas para a reabilitação pediátrica. Segundo professor da USP, dados são inacreditáveis.


Um levantamento da TV TEM, com dados do Cadastro de Demanda por Recursos de Saúde (CDR) da Secretaria de Saúde de Bauru (SP), revelou que a fila de espera para especialidades pediátricas no Sistema Único de Saúde (SUS) pode chegar a décadas na cidade.

Os dados disponibilizados pela prefeitura em outubro de 2024 mostram que, na ortopedia pediátrica, por exemplo, o tempo estimado de espera chega a dez anos e dez meses. São 744 crianças na fila para apenas 57 vagas disponíveis por ano.

Para exames de ecocardiogramas infantis, a espera é de 31 anos, com 337 pacientes aguardando e somente nove vagas anuais. A gastroenterologia pediátrica apresenta uma fila de 21 anos, com 382 crianças para 15 vagas anuais.


Já na endocrinologia pediátrica, são 554 crianças que aguardam atendimento, sem nenhuma vaga prevista. Na neurologia pediátrica, 1.064 crianças esperam na fila, também sem previsão de agendamento.

Espera por vagas para especialistas pediátricos em Bauru


EspecialidadeTempo de esperaNúmero de pacientes na filaVagas anuais
Ecocardiograma infantil30 anos3379
Gastroenterologia pediátrica21 anos38215
Endocrinologia pediátricaSem previsão5540
Neurologia pediátricaSem previsão10640


'Fila irresponsável'
A TV TEM apresentou o levantamento para o professor Gonzalo Vecina Neto, da faculdade de saúde pública da Universidade de São Paulo (USP), que afirmou que os dados são inacreditáveis.

"É uma fila irresponsável. Uma autoridade dizer que tem uma fila de 40 anos para atendimento de consultas de ortopedia infantil, quando são problemas que teriam que ser corrigidos o mais rapidamente possível para que essa criança possa se desenvolver e se transformar numa pessoa, um ser humano que tenha condições de viver na nossa sociedade de uma forma tranquila", afirmou.





Para famílias que dependem exclusivamente do SUS, a longa espera é um desafio constante. A motorista de aplicativo Laini Paula de Rezende é mãe de uma menina, de 11 anos, que tem diabetes.

Apesar de ter um encaminhamento médico desde janeiro, Laini relata que já espera há 11 meses por uma consulta com endocrinologista.

"Não sei se não tem vaga, se não tem médico, eles nunca falam nada. Eu tive que pagar um convênio, tirar do meu orçamento onde eu não tinha para ela ter um acompanhamento, porque a gente se viu totalmente perdido", disse a mãe.


Ação do Ministério Público
Em resposta à falta de atendimento médico para crianças em Bauru, o Ministério Público (MP) entrou com uma ação civil pública, atualmente em julgamento, para exigir que o município aumente a oferta de vagas para a reabilitação pediátrica.

A movimentação surgiu após o MP receber denúncias de que mais de mil crianças estariam sem o suporte necessário.

Atualmente, o município conta com 1,1 mil vagas para reabilitação, mas a expectativa da promotoria é que esse número seja dobrado para 2,2 mil vagas.

O MP também cobra um aumento nas consultas com médicos especialistas, especialmente nas áreas com déficit em Bauru, como de neurologia pediátrica e ortopedia.

Demora no atendimento adulto
Fila de espera pode exames e consultas médicas no SUS pode levar anos em Bauru

Após a exibição da reportagem da TV TEM que denuncia as filas de décadas por atendimentos infantis, moradores de Bauru também reclamaram da demora no atendimento de adultos por especialistas.

Fernando Vinícius de Lima está há dez anos à espera de um exame de colonoscopia. O aposentado conseguiu um encaminhamento por meio de uma médica do Centro de Referência em Moléstias Infecciosas da cidade em 2015, mas não conseguiu realizar o exame.

"Enquanto não consegui descobrir o diagnóstico, justamente por conta desse tempo todo, estou aguardando até agora. Eu não sei o que eu tenho. Se for alguma coisa muito grave, eu não tenho um diagnóstico", disse Fernando.




Fernando aguarda há dez anos um exame de colonoscopia em Bauru — Foto: Reprodução/TV TEM


Já Marcos Martins Limão espera há três anos por uma consulta com um reumatologista. O eletricista conta que sente dores no corpo e que já passou por um ortopedista após três anos de espera, mas o mesmo não resolveu seu problema e fez com que voltasse para um clínico geral para encaminhá-lo a um reumatologista.

"Isso já faz quase três anos novamente que eu estou esperando um reumatologista. Medicamento é por conta para tirar dor, porque eu não sei qual que é o problema, se é reumatológico realmente, se é algum outro tipo de problema", explicou Marcos.
Marcos espera ser atendido por um reumatologista em Bauru (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM



Silvana Rocha da Costa enfrenta dificuldades para tratar dores crônicas. Após dois anos aguardando consulta com um ortopedista e realizar exames por conta própria, ela segue sem diagnóstico e há mais de um ano espera por fisioterapia.

"Fiquei dois anos na fila de espera para ser atendida pelo ortopedista e, até hoje, ainda não consegui fazer a fisioterapia que ele pediu", conta Silvana.

Silvana não consegue atendimento fisioterapêutico em Bauru — Foto: Reprodução/TV TEM


O que diz o governo
Em nota à TV TEM, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que segue trabalhando para unificar as filas descentralizadas e adotando medidas para ampliar o acesso aos serviços de saúde.

Segundo a pasta, os serviços de ortopedia infantil e gastroenterologia clínica foram ampliados no Hospital das Clínicas de Bauru neste ano.

Além disso, conforme a nota, o Hospital Estadual de Bauru permanece como referência para atendimentos de cardiologia infantil, gastroenterologia pediátrica e neurologia pediátrica.

Sobre o ecocardiograma infantil, o estado colocou que são disponibilizadas mensalmente 70 vagas na especialidade de cardiologia infantil no Hospital Estadual de Bauru. Já no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Bauru, o atendimento em endocrinologia infantil é realizado para adolescentes acima de 14 anos.

Em relação à neurologia, o AME e o Hospital Estadual de Bauru estão contratando novos profissionais para melhorar a prestação de serviços na área.

O Departamento Regional de Saúde (DRS) de Bauru ressaltou que acompanha as demandas dos 68 municípios da região e realiza busca ativa de pacientes cadastrados na Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) para atualização da fila de espera.

O DRS ainda afirmou que os casos citados pela reportagem estão sendo reavaliados com prioridade pelos órgãos estadual e municipal, e os pacientes serão informados sobre os novos agendamentos nesta quinta-feira (28).



Fonte: G1

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