Nesta sexta-feira (13) é celebrado o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual. No Brasil, mais de 6,5 milhões de pessoas estão nesta condição, segundo o IBGE.
Audiodescrições criadas por alunos da Unesp conectam deficientes visuais a espaços urbanos de Bauru — Foto: Arquivo pessoal
Os espaços urbanos de Bauru (SP) estão ganhando voz e também um novo olhar por meio da audiodescrição. O Siga – Guia Acessível da Cidade – é um projeto de extensão desenvolvido pelo Laboratório Biblioteca Falada, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que oferece audiodescrições detalhadas de lugares da cidade.
A iniciativa foi criada para beneficiar pessoas com deficiência visual e também transforma a relação delas com o espaço urbano. Nesta sexta-feira (13) é celebrado o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual (saiba mais no fim da reportagem).
Em entrevista ao g1, Suelly Maciel, professora e coordenadora do laboratório, explicou que a Biblioteca Falada é um laboratório de ensino, pesquisa e extensão em mídia e acessibilidade.
"Dentro do laboratório são desenvolvidos diversos projetos de formação, extensão e pesquisa. O Siga é um deles, e tem como objetivo principal produzir mídia acessível, como audiodescrições, a partir de locais mapeados da cidade", explica a professora.
A inspiração para o projeto surgiu durante uma visita guiada à Rádio Unesp, organizada pela Biblioteca Falada para pessoas atendidas pelo Lar Escola Santa Luzia para Cegos de Bauru. Durante a visita, os participantes tiveram acesso a uma audiodescrição de cada ambiente da rádio.
"Ao final, uma usuária [do Lar Escola Santa Luzia para Cegos] comentou que seria maravilhoso ter algo assim na Rua Batista de Carvalho", lembra Suelly.
Dessa ideia nasceu o Siga, que hoje abrange audiodescrições de mais de 100 locais de interesse em Bauru, como praças, edifícios públicos, hospitais e supermercados.
Como funciona a plataforma?
Disponível em aplicativos para Android e iOS, e também em uma página web, o Siga fornece informações gerais sobre história, arquitetura e serviços dos locais, além de descrições arquitetônicas detalhadas.
Audiodescrições criadas por alunos da Unesp conectam deficientes visuais a espaços urbanos de Bauru — Foto: Arquivo pessoal
Suelly define que "a audiodescrição traduz informações visuais e táteis para a linguagem verbal, permitindo à pessoa com deficiência visual compreender aspectos até então inacessíveis".
Um outro diferencial do projeto é sua funcionalidade de geolocalização, que orienta os usuários sobre a disposição dos locais na cidade.
Audiodescrições criadas por alunos da Unesp conectam deficientes visuais a espaços urbanos de Bauru — Foto: Reprodução
A produção de audiodescrições envolve alunos de vários cursos da Unesp, como jornalismo, arquitetura e sistemas de informação, além de consultores voluntários de material audiodescritivo, que são, em sua maioria, deficientes visuais.
Juliana Grando Peixoto é uma das consultoras voluntárias do projeto. Ela explica que os consultores são responsáveis por dar um aval à eficácia da audiodescrição, após a realização de outras etapas, como a roteirização.
"Esse roteiro é analisado pelo consultor, que fará observações de acordo com o seu conhecimento em audiodescrição e de sua perspectiva de pessoa com deficiência visual. Este trabalho de troca é fundamental para que o roteiro seja mais significativo e para que a pessoa com deficiência possa formar sua imagem do que está ouvindo", explica.
A consultora ainda coloca que a audiodescrição pode ir além da acessibilidade para pessoas cegas.
"A audiodescrição pode beneficiar também outras pessoas além de cegas ou com baixa visão, como idosos, pessoas com dificuldades intelectuais e até mesmo para quem busca um olhar mais amplo sobre a obra. Certamente 'enxergar com as palavras' trará outra perspectiva sobre o que se está vendo", finaliza.
Impacto na sociedade
Além de capacitar os alunos, que se tornarão profissionais, na produção de mídia acessível, o Siga amplia a compreensão de toda a sociedade sobre acessibilidade de formas diferentes e que muitas vezes são relacionadas apenas às demandas físicas de uma cidade, por exemplo.
Suelly completa que, para as pessoas com deficiência visual, o projeto possibilita uma maior autonomia e engajamento com o espaço urbano onde vivem e que frequentam.
Audiodescrições criadas por alunos da Unesp conectam deficientes visuais a espaços urbanos de Bauru — Foto: Reprodução
"Oferecer esse tipo de informação permite à pessoa ter conhecimento do espaço urbano onde ela vive. É uma atuação mais ativa, mais cidadã dentro da cidade, no espaço urbano, porque a pessoa tem conhecimento de como aqueles locais são", destaca Suelly.
Em 2024, o projeto começou a se expandir também para as cidades de Marília e Botucatu, o que levará à mudança do nome para Guia Acessível das Cidades.
Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual
No dia 13 de dezembro é comemorado o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual, data que também homenageia Santa Luzia, padroeira dos olhos e da visão.
Santa Luzia é conhecida como protetora dos olhos devido a momentos antes da morte dela — Foto: Arquidiocese de Juiz de Fora/Divulgação
Instituído em 1961, o dia visa promover a conscientização e combater o preconceito, garantindo direitos e inclusão para as pessoas com deficiência visual. Antes conhecido como Dia do Cego, o nome foi atualizado para englobar também as deficiências de baixa visão.
No Brasil, segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 6,5 milhões de pessoas possuem deficiência visual.
Fonte: G1
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