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Versão de presidente sobre ajuda de R$ 40 mil a secretária desaparecida levantou suspeitas sobre desvios na Apae, diz delegado

À frente do inquérito que investiga suspeita de desvio na entidade em Bauru, Gláucio Stocco falou sobre o início e andamento das investigações. Nove pessoas são suspeitas de envolvimento no esquema, entre elas, parentes de Cláudia Lobo que, para a polícia, foi assassinada por Roberto Franceschetti Filho, ex-presidente da Apae.

Justiça determina prisão preventiva de 9 suspeitos de envolvimento em esquema de desvio milionário na Apae de Bauru — Foto: Reprodução/TV TEM



O delegado responsável pelo inquérito que investiga a suspeita de desvio milionário na Apae de Bauru (SP), Gláucio Stocco informou, em entrevista à TV TEM, que o depoimento do então presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, logo após o desaparecimento da secretária executiva Cláudia Lobo, foi ponto de início das investigações.

Gláucio explicou que ao ser questionado sobre os possíveis motivos do desaparecimento de Cláudia, Roberto citou uma ajuda financeira à secretária executiva que sairia do caixa da Apae. Nesse momento, o ex-presidente ainda era ouvido na condição de testemunha do inquérito que investigava o desaparecimento de Cláudia.


“Quando o Roberto foi ouvido a respeito do desaparecimento da colega de trabalho, ele menciona uma solicitação da Cláudia de um determinado valor que ela teria que entregar para alguém. E ela pede ao Roberto que esse valor seja retirado dos cofres da Apae, o que seria em torno de R$ 40 mil. Inicialmente ele afirma que negou, mas que depois acabou cedendo à solicitação dela e que inclusive teria sido ameaçado em uma ligação anônima. Ele traz essa informação de retirada de dinheiro da Apae e quando questionado sobre como isso seria possível legalmente, nos traz essa suspeita de ele estava retirando valores de forma ilegal da entidade.”

 

A partir daí, uma investigação paralela à apuração do desaparecimento da secretária executiva passou a ser realizada pelo Setor de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold) para levantar as informações sobre supostos desvios e irregularidades nas finanças da Apae que poderiam estar relacionados com o sumiço de Cláudia Lobo.

No curso das investigações Roberto passou de testemunha a principal suspeito do desaparecimento e, segundo a polícia, do assassinato da funcionária da entidade.

Com a conclusão do inquérito sobre desaparecimento, homicídio e ocultação de cadáver, o delegado responsável por essas investigações, Cledson do Nascimento, compartilhou as provas colhidas com o Seccold, entre elas gravações telefônicas que indicam um esquema criminoso e organizado de desvio de verbas da Apae.

Dentro do processo que investiga a morte de Cláudia, os advogados da família pediram a fixação de uma indenização por danos morais no valor mínimo de R$ 200 mil.

Segundo a defesa, essa solicitação é comum em casos de homicídio, nos quais os réus geralmente são condenados a pagar uma compensação aos familiares. A decisão final sobre o valor da indenização será tomada pela Justiça na sentença, a ser proferida durante o julgamento.

Movimentações milionárias
A investigação aponta movimentações atípicas de quase R$ 7 milhões nas contas de Roberto e Cláudia. Os dois inquéritos somam mais de 2,5 mil páginas que a reportagem da TV TEM e do g1 tiveram acesso com exclusividade.

Nove pessoas foram identificadas e estão presas suspeitas de envolvimento no esquema. Entre elas estão a filha, a irmão, o cunhado e o ex-marido de Cláudia, além de dois funcionários da Apae, um ex-policial que prestava serviços de segurança para entidade e um empresário.

Roberto também é investigado neste inquérito e já estava preso desde o dia 15 de agosto por envolvimento no desaparecimento de Cláudia. Todos tiveram a prisão preventiva decretada.

Além disso, foram apreendidos celulares e outros aparelhos eletrônicos, armas e munições, joias, dinheiro e veículos durante a operação realizada no dia 3 de dezembro.

Também durante as investigações foram apreendidas três máquinas de cartão, todas vinculadas a contas da Apae e duas delas que a entidade sequer tinha conhecimento da existência. Só em uma delas foi identificada uma movimentação de R$ 500 mil para contras da Cláudia e do Roberto.

As investigações revelam, por fim, um esquema de desvio de dinheiro envolvendo superfaturamento de contratos, pagamentos a funcionários "fantasmas" e outras irregularidades financeiras dentro da entidade.

Foram apreendidos armas, munições e dinheiro na operação que investiga desvios na Apae em Bauru — Foto: Anderson Camargo/TV TEM
Em mensagem trocada com ex-presidente Apae de Bauru, Cláudia Lobo escreveu que 'estava rica' — Foto: Reprodução/TV TEM


Depoimento dos envolvidos
Em depoimento, dois dos suspeitos presos confirmaram uso de notas fiscais frias na prestação de serviços à entidade. No entanto, eles explicaram que o valor excedente era restituído à Apae, com a alegação de que seria destinado a melhorias dentro da instituição.

“Um desses suspeitos é um empresário do setor de piscinas e no depoimento, ele explicou que quando fazia esses serviços de manutenção foi informado que a Apae não poderia fazer o pagamento com nota de serviço e sim de produtos. Então diante disso ele entregava os produtos, porém com notas de valores superfaturados, com valores acima do estipulado em contrato com a entidade. Esse valor a mais, a diferença, eles encaminhavam para uma conta da Apae que depois nós viemos a descobrir que era de movimentação exclusiva do Roberto e que sequer passava pela contabilidade da Apae”, explica Glaucio.

Ainda de acordo com o delegado, as investigações continuam para colher mais provas do envolvimento dos suspeitos já investigados e também sobre a possibilidade de mais pessoas fazerem parte do esquema.

“Na operação nove pessoas foram identificadas como alvos dessa investigação e outras que de alguma forma tiveram algum contato com esse esquema, elas entraram no radar da Polícia Civil, por isso, foram feitas as buscas com apreensão de celulares, computadores e outros eletrônicos e agora todo esse material vai ser extraído com a devida autorização e periciado”, explica.

“A polícia vai fazer novas análises para colher provas do envolvimento dessas pessoas já alvo da investigação e também de outras eventualmente envolvidas. A investigação é a respeito de condutas relacionadas a desvios então toda a movimentação financeira da Apae vai ser objeto de investigação independentemente de quem tenha participado”, completa.
O delegado também destacou a importância do trabalho da polícia para identificar os responsáveis por esses desvios e puni-los para que a instituição possa continuar a desempenhar o papel essencial na assistência e tratamento das pessoas com deficiência.

“A ideia nossa enquanto instituição é apurar condutas por crimes autoria e materialidade de crime identificar quem eram as pessoas envolvidas em ações ilícitas e apontar para o Ministério Público para que possa fazer a denúncia, haja um processo e até a final condenação e responsabilização daqueles que efetivamente tiveram participação."

"Para a associação é óbvio que existe um prejuízo para a imagem da Apae, mas que tem que ser resgatado. Então, que a ação da polícia sirva para que os gestores que forem assumir e a própria sociedade de forma geral tenham um pouco mais de atenção com isso.”


Fonte: G1

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