Em 2023, 10,8 milhões de pessoas foram infectadas pela doença; climatização hospitalar ineficiente compromete saúde de pacientes e profissionais
![]() |
No Dia Mundial de Combate à Tuberculose, lembrado na segunda-feira, 24, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o baixo financiamento para prevenir e tratar a doença ameaça milhões de vidas.
Dados da entidade mostram que, em 2023, 10,8 milhões de pessoas foram infectadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. Dessas, 1,25 milhão morreram em razão da doença.
A tuberculose, segundo a OMS, apesar de ser prevenível e tratável, permanece com o posto de doença infecciosa mais mortal do planeta.
“Ela continua a devastar milhões de pessoas globalmente, causando graves consequências sanitárias, sociais e econômicas”, alerta a OMS.
Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostram que, nas Américas, 342 mil pessoas adoeceram por tuberculose em 2023. Dessas, 35 mil morreram. A entidade contabiliza ainda cerca de 76 mil casos não diagnosticados nem tratados na região.
O tema da campanha global de combate à tuberculose este ano é “Sim! Podemos acabar com a Tuberculose! Compromisso, Investimento, Resultados.”
“O Dia Mundial da Tuberculose deste ano reforça a urgência de agir”, avaliou a Opas.
“Os países se comprometeram a acelerar a resposta e garantir acesso universal à prevenção, diagnóstico e tratamento, mas o progresso ainda é insuficiente e a tuberculose continua afetando as populações mais vulneráveis”, diz a Opas.
A entidade destaca que, apesar dos desafios, “há motivos para esperança”. Novas tecnologias, segundo a Opas, podem mudar o rumo da tuberculose, incluindo radiologia digital com inteligência artificial, ferramenta capaz de aprimorar a detecção precoce em populações de maior risco; testes moleculares rápidos, que permitem diagnósticos mais precisos e ágeis; e tratamentos mais curtos e totalmente orais, com suporte da telemedicina para garantir maior adesão ao tratamento.
“Com compromisso renovado e colaboração, podemos avançar rumo à eliminação da tuberculose e salvar vidas. Agora é o momento de agir com determinação para alcançar as metas globais”, defende a Opas.
Além disso, estudo publicado na Revista Eletrônica de Enfermagem analisou a qualidade do ar em ambientes hospitalares climatizados e identificou que a ventilação inadequada pode contribuir para a propagação de infecções. A pesquisa apontou que sistemas de ar-condicionado sem manutenção adequada favorecem a disseminação de microrganismos, tornando o ambiente hospitalar um risco para pacientes, especialmente aqueles com a imunidade comprometida.
Para Patrick Galletti, engenheiro de climatização e CEO do Grupo RETEC, a negligência na manutenção desses sistemas pode ter consequências graves.
“Os hospitais dependem de um controle rigoroso da qualidade do ar para evitar surtos de infecção. Sem um sistema eficiente, os próprios corredores e enfermarias podem se tornar vetores de doenças, impactando diretamente a recuperação dos pacientes ou gerando novos quadros, ainda mais graves”, explica.
Segundo ele, os sistemas de climatização em hospitais não são meramente uma questão de conforto. O controle da temperatura e da umidade, combinado a filtros específicos, reduz a presença de microrganismos no ar, diminuindo o risco de infecções respiratórias. Essa é uma prioridade em centros cirúrgicos, unidades de terapia intensiva e enfermarias que atendem pacientes vulneráveis.
A má qualidade do ar em hospitais já foi associada a surtos de doenças como pneumonia e tuberculose, que se propagam mais facilmente em ambientes fechados e com circulação de ar comprometida. Além disso, a falta de climatização adequada pode comprometer a recuperação de pacientes que passaram por cirurgias, já que temperaturas extremas afetam a estabilidade do organismo e aumentam o risco de complicações.
Os médicos e enfermeiros também são impactados pelo calor excessivo e pela ventilação inadequada. Profissionais que atuam em turnos longos, muitas vezes em locais sem ventilação natural, relatam quedas de pressão, fadiga e dificuldade de concentração. Em casos mais graves, o calor pode levar a desmaios, afetando a capacidade desses trabalhadores de prestar um atendimento adequado.
No Brasil, normas como a ABNT 7256 estabelecem padrões para a climatização em ambientes hospitalares, determinando requisitos de filtragem e controle de temperatura. No entanto, a implementação dessas diretrizes depende de investimentos contínuos em manutenção e modernização dos sistemas. A Lei 13.589/2018 também exige que edifícios de uso público e coletivo, incluindo hospitais, sigam um plano de manutenção preventiva para garantir a qualidade do ar interno.
Apesar das regulamentações, relatos de falhas na climatização hospitalar continuam recorrentes. A falta de manutenção preventiva e o adiamento de reparos são problemas comuns em hospitais públicos, onde os sistemas muitas vezes operam além de sua capacidade ideal. Reformas estruturais que incluem a instalação de novos aparelhos de ar-condicionado, como ocorreu no HMIB, nem sempre resultam em melhorias imediatas, seja por falta de recursos para a manutenção contínua ou pela dificuldade de integrar os equipamentos à infraestrutura existente.
Patrick Galletti explica que a renovação do ar e a filtragem eficiente são fundamentais para evitar problemas como esses. “Não basta apenas instalar ar-condicionado. É preciso monitorar constantemente a qualidade do ar e garantir que os filtros estejam funcionando corretamente. Os ambientes hospitalares exigem um controle rigoroso, pois a presença de vírus e bactérias no ar pode comprometer tratamentos médicos e prolongar internações”, ressalta.
Além da manutenção regular dos equipamentos, algumas soluções podem ajudar a garantir um ambiente mais seguro em hospitais e clínicas. O uso de filtros HEPA, por exemplo, é uma alternativa eficaz para reter partículas microscópicas que poderiam circular pelo ar. Equipamentos de purificação do ar, com tecnologia de radiação ultravioleta, também têm sido utilizados para eliminar agentes patogênicos.
Outro fator é o monitoramento contínuo das condições do ambiente. Sensores de qualidade do ar podem detectar variações na temperatura, na umidade e na presença de partículas nocivas, permitindo ajustes rápidos nos sistemas de climatização. Esse tipo de tecnologia já é adotado em hospitais de referência no exterior e poderia ser mais amplamente implementado no Brasil.
Patrick Galletti destaca que a combinação de manutenção eficiente e novas tecnologias pode transformar a climatização hospitalar. “O investimento em sistemas inteligentes de climatização melhora o ambiente para todos. É uma questão de saúde pública que precisa ser tratada com prioridade”, conclui.
-----Publicidade-----
