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Endometriose atinge cerca de 10 milhões de brasileiras, mas ainda é negligenciada

Famosas como Anitta, Larissa Manoela e Patrícia Poeta já falaram abertamente sobre a enfermidade

Cólicas intensas, dor na relação sexual e dificuldade para engravidar são alguns dos sintomas

A biomédica Ingrid Santos, de 30 anos, e a gerente de marketing Fernanda Rezende, de 28, têm a mesma doença, a endometriose, enfermidade em que o tecido endometrial cresce fora do útero. Mas elas não compartilham apenas o diagnóstico. Tanto Ingrid quanto Fernanda enfrentaram uma longa trajetória marcada por idas e vindas a médicos, dores lancinantes e angústias até conseguirem identificar a patologia. Elas fazem parte de uma estatística alarmante: pesquisas apontam que mulheres demoram entre 8 e 10 anos para receberam o diagnóstico da endometriose, mesmo que condição atinga cerca de 15% das brasileiras. “Estamos falando de cerca de 10 milhões de pessoas com endometriose, mas essa doença ainda é muito ignorada. Em relação à saúde da mulher, fala-se mais em mioma ou síndrome dos ovários policísticos (SOP), por exemplo”, aponta a ginecologista do Hospital Felício Rocho, Karla Schettino.

Para alertar sobre a existência da enfermidade, neste mês acontece a campanha Março Amarelo, cujo objetivo é conscientizar a sociedade sobre os sintomas e tratamento da endometriose. Além disso, quando figuras públicas compartilham seu diagnóstico, aumentam-se as chances de mais informações a respeito da doença chegarem a diferentes grupos de mulheres. São muitas as famosas que já falaram abertamente sobre a enfermidade, dentre as quais Anitta, Wanessa, Larissa Manoela, Giovanna Ewbank e Patrícia Poeta. A jornalista apresentadora do programa “Encontro”, da TV Globo, a propósito, contou que descobriu a condição somente após os 40 anos. 

No caso de Ingrid Santos, a biomédica percebeu que algo não ia bem já aos 13 anos. À época, ela teve uma crise hemorrágica grave, e, no consultório, descobriu que tinha SOP. O médico lhe receitou um anticoncepcional, mas as dores fortes não passavam. “Quando entrei na faculdade e passei a ter relações sexuais, as dores se intensificaram. Estudando, vi que minha situação não se encaixava apenas no diagnóstico de SOP”, relembra. Então, Ingrid se consultou com outro profissional, que lhe falou sobre a endometriose. No entanto, ao fazer exames, os resultados não identificaram a doença. Somente em 2021, quando fez uma ultrassonografia, um novo médico lhe alertou sobre a possibilidade da enfermidade. Novamente, ela passou por uma nova inspeção, desta vez mais detalhada, que revelou a patologia. 

Uma das suspeitas de a doença ser tão negligenciada está no fato de que um de seus principais sintomas, a cólica, pode acometer boa parte das mulheres durante o período menstrual. No entanto, a dor da endometriose é tão intensa que chega a ser paralisante. “É extremamente importante que toda dor intensa seja investigada. Quando ela nos limita ou nos impede de realizar atividades normalmente, sempre há um aspecto que merece atenção”, salienta Karla Schettino, que faz parte do Núcleo Integrado de Pesquisa e Tratamento da Endometriose, do Hospital Felício Rocho.

A gerente de marketing Fernanda Rezende relembra que “sentia uma dor tão forte, que tinha a sensação de estar empurrando o útero para fora”. Assim como Fernanda, ela passou por um período de intenso sangramento, aos 18 anos, e, até descobrir a doença, foi a mais de 40 médicos. “Recebi diagnósticos de mais de 20 doenças diferentes, como câncer, porfiria, doença mental e até DST. Tomei inúmeros medicamentos, chegando a seis por dia”, recorda-se. Ela finalmente soube que é portadora da condição quando uma médica passou a tratá-la com um hormônio específico. 


Como descobrir a endometriose e tratamento

Além das cólicas intensas, existem outros dois sintomas mais prevalentes em mulheres que têm endometriose: dor na relação sexual e dificuldade para engravidar. Esta, aliás, é uma das maiores preocupações entre mulheres acometidas pela doença. No entanto, ter endometriose não significa, necessariamente, que a pessoa será infértil, assim como nem toda dificuldade para engravidar é causada por essa condição, como explica a ginecologista Karla Schettino.“A dificuldade para engravidar só deve ser encarada quando se tenta e não se consegue sem uma justificativa clara. Não faz sentido buscar tratamentos de fertilidade se não há desejo de gestação naquele momento. A abordagem nesses casos deve ser altamente individualizada, pois não existe um protocolo único que sirva para todas as pacientes”, aponta.

Outro motivo que pode fazer com que a endometriose seja negligenciada é a dificuldade em fechar o diagnóstico. “O exame que deve ser feito é um ultrassom endovaginal com preparo intestinal realizado por profissionais especializados em endometriose. Quando o exame é feito sem o preparo intestinal ou sem um profissional experiente, as lesões podem passar despercebidas”, conta a médica. Descoberta o distúrbio, o tratamento vai depender do que a mulher deseja e de suas expectativas de vida. “Nem toda mulher com endometriose precisa de cirurgia. Ela é indicada principalmente quando há lesões muito grandes nos ovários ou quando o tratamento clínico, como o uso de anticoncepcionais e progesterona, não é suficiente para controlar os sintomas”, comenta a médica. 

A biomédica Ingrid Santos e a gerente de marketing Fernanda Rezende, por exemplo, se submeteram a tratamentos diferentes: enquanto a primeira passou por cirurgia, a segunda faz uso contínuo de medicamentos. “Minha cirurgia foi bem crítica, me operaram por nove horas. Mas as minhas dores melhoraram muito, em cerca de 70%. As hemorragias também melhoraram”, conta Ingrid. “Tomo um medicamento há 10 anos. Sempre que tentei parar, as dores voltaram. Assim, o diagnóstico foi fechado com base na minha resposta ao tratamento”, comenta Fernanda. 

Além disso, praticar atividades físicas e manter uma alimentação saudável são essenciais para o controle da doença. “Não existe um alimento vilão nem um ‘salvador da pátria’. No entanto, uma alimentação rica em fibras e baseada em alimentos naturais pode ajudar no controle dos sintomas. Quanto mais fresca e menos processada for a comida, melhor tende a ser a resposta do organismo”, comenta a médica. Em relação aos exercícios físicos, qualquer prática pode trazer benefícios. “Basta seguir a orientação da OMS, de 200 minutos por semana de atividade moderada e 150 para atividades intensas. Se a dor impede a prática de exercícios, é fundamental incentivar formas adaptadas de movimento, respeitando os limites do corpo, para que a atividade física se torne um aliado no controle dos sintomas”, indica.


Áreas afetadas e associação a outras doenças

As lesões da endometriose podem se desenvolver em qualquer parte do corpo, mas as áreas mais comuns são o útero, os ovários, os ligamentos próximos ao útero, a bexiga, o ureter e o intestino – principalmente no reto e no sigmoide. “Fora dessas localizações mais esperadas, a endometriose pode apresentar focos no diafragma e, em alguns casos mais raros, na pleura, no miocárdio e nos nervos, especialmente na região pélvica, como o nervo ciático, que fica próximo ao útero”, explica a ginecologista do Hospital Felício Rocho, Karla Schettino.

Ela ressalta ainda que a endometriose não se transforma em câncer, ou seja, não sofre um processo de malignização. “No entanto, estudos indicam que mulheres com endometriose podem ter uma predisposição genética para desenvolver certos tipos de câncer, como o de ovário de células claras. Isso ocorre porque a endometriose pode estar associada a alterações genéticas que também são comuns no desenvolvimento de alguns tumores”, destaca a médica. 

Em relação a doenças associadas à endometriose, destacam-se distúrbios de ansiedade e de depressão.

 “Embora não se saiba exatamente se uma condição leva ao desenvolvimento da outra, observa-se uma forte associação entre elas”, aponta a médica. Também há uma relação com doenças autoimunes. “Outra associação comum é com a síndrome do intestino irritável, por mais que não se saiba se uma condição causa a outra ou se apenas costumam ocorrer juntas”, salienta. A endometriose não é hereditária, mas há um forte fator familiar envolvido. “Filhas de mulheres com endometriose têm até seis vezes mais chances de desenvolver a doença em comparação com aquelas sem histórico familiar”, afirma Karla.

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