Siga-nos

Page Nav

HIDE

Hover Effects

TRUE

No

HIDE_BLOG

Cabeçalho-clássico

{fbt_classic_header}

Banner Rotativo

Slider-topo

Últimas Notícias

latest

Busca de empresas


Dia Mundial do Médico Veterinário: discutir e agir em defesa da saúde mental desses profissionais é uma necessidade urgente

Celebrado em 26 de abril, o Dia Mundial do Médico Veterinário é uma oportunidade para refletir não apenas sobre a importância da profissão para a saúde animal e pública, mas também sobre o custo emocional cobrado desses profissionais. Estudos nacionais e internacionais apontam que médicos veterinários estão entre os grupos com maior risco de sofrimento mental relacionado ao trabalho.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2022 revelou que 41,3% dos veterinários avaliavam negativamente sua saúde mental, e entre os insatisfeitos, mais de 84% faziam uso de medicação psicoativa. Em escala global, um estudo publicado no Journal of the American Veterinary Medical Association revelou que veterinários apresentam um risco significativamente maior de suicídio do que a população geral: 2,1 vezes maior para homens e 3,5 vezes maior para mulheres.

Gabriella Carolina, médica veterinária pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).

A realidade por trás da rotina clínica mostra que a profissão está longe de ser apenas uma missão romântica de amor aos animais. A veterinária Gabriella Carolina Silva, formada pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), relata que o cotidiano da carreira oscila entre momentos de euforia, com a recuperação de pacientes, e sentimentos profundos de culpa diante de resultados negativos. "É como uma montanha-russa. Quando você tem um bom resultado, entrega o paciente bem, é colocado como herói. Quando não consegue, é visto como vilão, o culpado", afirma.

Na prática, o luto por um animal perdido pode ser seguido imediatamente pela performance de alegria para vacinar um filhote, sem espaço para processar o sofrimento. "Se tenho vontade de chorar, eu choro. Mas, muitas vezes, você está sozinha no plantão. Perde um paciente e já precisa vacinar um filhote logo depois. Engolimos a frustração, fazemos o que precisa ser feito e deixamos para sentir depois, em casa", relata.

A dificuldade em falar sobre o tema é um agravante nesse cenário. Segundo a veterinária, ainda há tabu, receio em demonstrar fragilidade nas equipes e também o medo de represálias por parte de superiores. "Os donos de clínica sabem o quanto a gente se desgasta. Mas, em vez de oferecer suporte psicológico, é comum que simplesmente troquem o profissional. Quando percebem que alguém está exausto, deprimido ou em burnout, mandam embora e contratam outro", afirma.

Julia Moreira, psicóloga pelo Centro Universitário de Ourinhos (UniFio), pós-graduada em Saúde Mental.

A psicóloga Julia Moreira, formada pelo Centro Universitário de Ourinhos (UniFio), destaca que o sofrimento psíquico ligado ao trabalho precisa ser encarado como uma necessidade de atenção urgente. Ela aponta fatores como o contato constante com o sofrimento dos tutores, jornadas longas e a falta de valorização como elementos que desgastam profundamente esses profissionais. Em sua avaliação, o preconceito, o medo de parecer frágil e a naturalização do sofrimento são os principais entraves para a busca por ajuda.

Julia alerta que, quando o estresse ultrapassa o ambiente profissional e afeta relações pessoais, humor e saúde física, é hora de procurar apoio. Segundo ela, é comum que o corpo manifeste esse sofrimento por meio de dores, fadiga ou sintomas psicossomáticos. Preparar a sociedade para esse debate e os profissionais para a potencial necessidade de buscar ajuda deve ser considerado uma questão de saúde própria da Medicina Veterinária.


Na formação universitária, Gabriella observa uma lacuna importante: os alunos não são preparados para lidar emocionalmente com o impacto da carreira. "Recebemos o alerta constante: 'Cuidado com o tutor, ele pode te prejudicar'. Mas em nenhum momento somos preparados emocionalmente para o que vamos enfrentar", aponta.

No Dia Mundial do Médico Veterinário, ela reforça que a data também deve servir para lembrar que esses profissionais são, acima de tudo, seres humanos. "Não somos super-heróis, nem santos que fazem tudo por amor. Existe essa idealização, mas somos profissionais tentando ganhar a vida, com amor pelos animais, sim, mas dentro de uma realidade muito difícil."


A psicóloga ourinhense alerta: “Não é preciso adoecer para provar competência. Os profissionais precisam se priorizar, dedicar a si mesmos o cuidado que oferecem aos outros. Um ambiente de trabalho não deve ser um lugar de adoecimento”. Julia lembra que é possível buscar apoio gratuito pelo SUS, seja nas UBS (Unidades Básicas de Saúde), seja nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), que oferecem suporte especializado para casos moderados e graves.

Em meio aos desafios cotidianos, a reflexão sobre a saúde mental desses profissionais é urgente. Além do reconhecimento técnico, o cuidado com quem cuida dos animais deve ser parte essencial da valorização dessa profissão tão essencial para a sociedade.


Coockies