Soro da imunidade: entenda “terapia” que deixou mulher em coma

Sem base científica, aplicação de vitaminas direto no sangue pode levar a casos de toxicidade potencialmente fatais

Aplicação intravenosa de vitaminas só é indicada para casos extremos (rawpixel.com/Freepik)

Com o mercado de vitaminas aquecido, têm se tornado cada vez mais frequentes as indicações por suplementações desnecessárias. Uma realidade que está longe de ser inócua: em alguns casos, o excesso de determinados nutrientes pode levar à chamada hipervitaminose, quando o corpo não consegue mais processá-los de forma adequada e passa a sofrer com efeitos tóxicos.

Quando são aplicados pelas veias ou por injeções, a situação fica ainda mais perigosa. Vendidos com nomes como “soro da imunidade” ou soroterapia, os produtos por vezes são oferecidos inclusive por médicos, mas não contam com qualquer base científica atestando sua segurança ou eficácia.

Recentemente, o caso de uma empresária baiana que passou quase um mês em coma após receber um soro do tipo ganhou destaque no noticiário. O episódio reforça os riscos da toxicidade ocasionada pelo excesso de vitaminas, que pode causar danos irreversíveis a órgãos e tecidos, levando a uma série de complicações de saúde.

Entenda o caso
Os casos de intoxicação por excesso de vitaminas voltaram ao radar ao longo da semana após uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, trazer uma série de histórias de pessoas que recorreram a esse tipo de técnica e tiveram problemas de saúde .

No relato que mais chamou a atenção, a matéria trouxe a história da empresária baiana Perinalva Dias da Silva, que recebeu indicação de aplicar o suposto “soro da imunidade” após procurar um médico, relatando cansaço.

Após as aplicações, ela passou a sentir diversos sintomas que foram minimizados pelo médico como efeitos colaterais esperados do tratamento, até que seus membros inferiores não funcionavam mais e ela começou a fazer xixi escuro. Ela acabaria internada e passou 28 dias em coma em um hospital de Vitória da Conquista, no interior da Bahia.

Mais casos foram trazidos pela reportagem da TV Globo, com relatos de pessoas que precisaram passar por cirurgias, hemodiálise e internações em UTI para lidar com as sequelas do tratamento que não conta com base científica.

Os perigos do “soro da imunidade” e equivalentes
Preparados como o “soro da imunidade” esbarram na falta de segurança, em primeiro lugar, por não serem produtos regulamentados ou testados em pesquisas sérias. Não dá para ter certeza sobre o que está dentro da mistura, em quais proporções, nem quantas aplicações seriam indicadas para cada pessoa.

Mesmo quando as vitaminas efetivamente estão no soro, existe o risco de hipervitaminose causado sobretudo por aquelas lipossolúveis: nutrientes que, presentes em níveis acima do recomendado, não são simplesmente eliminados pela urina e acabam se acumulando no corpo. O tipo de toxicidade mais recorrente nesses casos costuma ser a hipervitaminose causada por excesso de vitamina D.

Quem precisa de soroterapia?
Tenha em mente: indicações de reposição intravenosa de vitaminas, em geral, só são feitas em casos de desnutrição severa, quando há um risco iminente à saúde se os níveis do nutriente não forem repostos o quanto antes.

É uma situação bastante rara em pessoas que não vivem em pobreza extrema nem têm diagnosticada alguma doença intestinal que prejudique a absorção de vitaminas. Além desses casos, a indicação só costuma vir se há desidratação grave (um episódio pontual) ou em pacientes acometidos pelo alcoolismo. Mesmo nesses casos, a reposição é feita com fórmulas controladas.

Ou seja: se algum profissional de saúde indicar isso para você por um simples cansaço e sem exames complementares para fechar um diagnóstico concreto, desconfie e busque uma segunda opinião.

A deficiência vitamínica só pode ser comprovada com exames de sangue para testar a presença daquele nutriente no corpo. E, mesmo quando há falta de algo, outros métodos mais conservadores de reposição costumam ser indicados antes, como adequações na alimentação ou o uso de suplementos de uso oral, em doses controladas, de preferência com acompanhamento nutricional e atualização periódica dos exames de sangue.

FONTE: VEJA SAÚDE

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