Caminhada da fé: pai percorre 600 km a pé para cumprir promessa pela vida da filha diagnosticada com fibrose cística

Lara Maria de Araújo Sola, de 1 ano e 4 meses, nasceu com a doença genética e passou por seis cirurgias no intestino. Para que a filha se recuperasse, pai prometeu viagem a pé de Bauru a Aparecida.

Teodoro Rodrigo Sola de Antônio, morador de Bauru (SP), caminhou 600 quilômetros entre os dias 30 de agosto e 21 de setembro, de Bauru até Aparecida (SP), após uma promessa feita em agosto do ano passado pela vida da filha.

O pai da pequena Lara, diagnosticada com fibrose cística, ele contou, em entrevista ao g1, que a decisão foi tomada após complicações causadas pela quinta cirurgia da bebê de 1 ano e 4 meses, que a deixaram em estado grave na UTI.

“Foi na quinta cirurgia dela, quando começou a abrir, que eu fiz a promessa de que eu sairia a pé, da frente do hospital onde eu estava até Aparecida, se a Lara ficasse viva”, relata.

No dia 30 de agosto deste ano, ele começou a cumprir a promessa e saiu de Bauru às 6h rumo a Águas de Prata (SP) e, depois, à Aparecida (SP), onde chegou no dia 21 de setembro.

Segundo Teodoro, durante todo o trajeto apareceram pessoas para ajudar, oferecer abrigo, lanche ou companhia. Um amigo caminhou os primeiros 100 km com ele para pagar a própria promessa pela vida da menina. Um primo o encontrou no meio do caminho e andaram juntos por dois dias. E outro amigo andou os últimos 100 km ao lado dele.

Além das pessoas que o conheciam, o pai da Lara conta que uma família em especial o marcou. Eles são de São Manuel, também caminhavam e “adotaram” não só ele, como outros peregrinos pelo caminho. O encontro rendeu até grupo em uma rede social.

“A gente formou um grupo muito legal, que se chama ‘Amigos na Fé’. Com certeza a gente vai manter e vamos levar pra vida”, conta.

Teodoro Rodrigo Sola de Antonio saiu de Bauru (SP) no dia 30 de agosto e chegou à Aparecida (SP) no dia 21 de setembro. — Foto: Arquivo pessoal

Prova de fé

Segundo Teodoro, durante a caminhada ele recebeu um sinal divino por meio de uma ligação da esposa.

À reportagem, o pai de Lara explicou, que o tratamento com o medicamento de fibrose cística (Trikafta) era autorizado apenas para crianças a partir dos seis anos no Brasil e, nas rezas que fez durante o trajeto, ele pediu para que fosse aprovado o uso do medicamento a partir dos dois anos, como já acontece em outros países.

“Uma das minhas intenções diárias no terço era de que Nossa Senhora intercedesse e iluminasse a cabeça das pessoas que estivessem com a caneta. Todos os dias eu pedia isso: que, antes de eu chegar, a Anvisa aprovasse”, lembra.

Teodoro disse que, quando estava próximo à cidade de Consolação (MG), pouco mais de 100 km de Aparecida, a esposa ligou contando sobre a aprovação do medicamento pela Anvisa para crianças mais novas.

“Ali, naquele momento, eu tive certeza que era uma resposta àquilo que eu estava pedindo”, comenta.

Mas as surpresas não pararam por aí. Ele teve mais uma prova da sua fé ao descobrir que a capela onde parou para agradecer pela notícia é conhecida como ‘capela do médico’, batizada assim após a morte de um médico por falta de remédio para picada de abelha.

“Por falta de um remédio ele morreu exatamente ali. E ali eu tinha tido a notícia de que a Anvisa tinha aprovado a bula do remédio, que vai salvar a vida não só da Lara [que já faz o tratamento], mas de muitas crianças que estão, neste momento, precisando do remédio”, relata.

Teodoro encontrou a ‘capela do médico’ logo depois de receber a notícia da aprovação do medicamento para fibrose pela Anvisa. — Foto: Arquivo pessoal

Teodoro encontrou a ‘capela do médico’ logo depois de receber a notícia da aprovação do medicamento para fibrose pela Anvisa. — Foto: Arquivo pessoal

Do diagnóstico ao tratamento

As desconfianças do diagnóstico começaram nos primeiros dias de vida de Lara, quando ela passou mais de 24 horas após o parto sem evacuar e precisou passar pela primeira cirurgia para liberar o intestino.

Nas semanas seguintes, foram realizados o teste do pezinho e o teste do suor, que confirmaram a doença.

Teodoro explicou que, a partir do momento que a doença foi confirmada, eles foram encaminhados para o Hospital das Clínicas de Botucatu, onde a menina faz acompanhamento até hoje. Ela também passa por especialistas em São Paulo.

A doença trouxe algumas sequelas para a Lara. Uma delas é a obstrução do intestino, que fez com que a menina fosse submetida a seis cirurgias até o órgão voltar a funcionar normalmente.

Outra consequência é a insuficiência pancreática, ou seja, o pâncreas não produz enzimas e, por isso, a digestão dos alimentos não acontece.

Apesar dos desafios, Teodoro diz que, com o uso dos medicamentos corretos, a filha apresenta melhoras.

“Tem a expectativa também de que a função do pâncreas dela comece a se regenerar e, daqui a um tempo, ela também se torne autossuficiente na função exócrina e não precise mais de enzima. Isso é o que a gente vislumbra com o tratamento”, declara.

Lara tem menos de 2 anos e já passou por seis cirurgias em Bauru — Foto: Arquivo pessoal

Lara tem menos de 2 anos e já passou por seis cirurgias em Bauru — Foto: Arquivo pessoal

Setembro Roxo

A campanha Setembro Roxo busca conscientizar a população sobre a prevenção e o diagnóstico precoce da fibrose cística, uma doença genética que afeta as glândulas produtoras de muco, suor e enzimas digestivas.

Essa mutação faz com que o muco produzido pelo organismo seja espesso e pegajoso, ao invés de fino e fluido, o que pode obstruir os pulmões e os canais pancreáticos, levando a problemas respiratórios e digestivos.

A fibrose cística pode ser diagnosticada de forma rápida pelo teste do pezinho, hoje obrigatório para todas as crianças.

Em 2023, o medicamento para tratamento da doença, o Trikafta, foi incorporado ao Sistema Único de saúde (SUS) em sua versão genérica, conhecida como elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor.

Fonte: G1

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