Imagens mostram homem vendado, deitado na linha férrea em Itaquaquecetuba. Cena exibida nas redes sociais pode servir de alerta sobre os riscos que esse tipo de conteúdo pode causar, especialmente, em crianças e adolescentes.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um suposto criador de conteúdo vendado, deitado na linha férrea da Companhia de Trens Metropolitanos (CPTM) na estação Aracaré, em Itaquaquecetuba, enquanto o trem passa acima dele.
A CPTM informou que a cena aconteceu no dia 24 de junho e, quando os agentes chegaram, a pessoa havia fugido, o que impossibilitou a detenção e identificação do invasor. A Delegacia de Itaquaquecetuba registrou o caso e investiga perigo de desastre ferroviário e incitação ao crime, delitos previsto no Código Penal.
Vídeos de pessoas se arriscando em trens não são novidade na internet. A cena, exibida nas redes sociais, pode servir de alerta sobre os riscos que esse tipo de conteúdo pode causar, especialmente, em crianças e adolescentes.
Para a pesquisadora de comunicação e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas Juliana Doretto, é preciso uma mudança da sociedade para que conteúdos desse tipo percam engajamento.
Ela afirma que um vídeo que mostra uma pessoa se arriscando e colocando a segurança de outras em risco, deveria ser filtrado pelas plataformas (leia mais abaixo).
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Mogi das Cruzes e doutor em direito penal, Dirceu Valle, afirma que esse tipo de vídeo pode ser considerado crime e gerar penalidades para quem produz. Isso porque houve o crime de perturbação do serviço de estrada de ferro e ainda caracteriza crime de perigo para a vida.
Sociedade e Internet
Para a jornalista, pesquisadora de infâncias, adolescências e comunicação, e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Juliana Doretto, as redes sociais se desenvolveram como um negócio.
“Estamos em uma grande luta ao nível global, pra conter esse poder exacerbado que fere legislações locais. Enquanto diversos governos tentam controlar esse processo de alguma forma, como está acontecendo no Brasil, eles enfrentam uma série de dificuldades”.
De acordo com a pesquisadora, um tipo de conteúdo como este, em que uma pessoa se arrisca e coloca a segurança de outras em risco, deveria ser filtrado pelas plataformas que publicam.
A pesquisadora acredita que é preciso mudar como se convive na sociedade para que conteúdos desse tipo percam engajamento.
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Homem grava vídeo deitado em linha do trem da CPTM — Foto: Reprodução/Tv Diário
Redes sociais e saúde mental
O psiquiatra, doutorando da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e colaborador da Universidade de São Paulo (USP), Rodrigo Martins Leite, alerta para o impacto das redes sociais na saúde mental.
“A moeda emocional do ‘like’ gera um ciclo viciante de recompensa da mesma forma que drogas como álcool, tabaco e o crack. Além disso, os algoritmos priorizam o que é espetacular, grotesco, polêmico ou extremo”, explica Leite.
Para o psiquiatra, um jovem pode ter comportamentos de risco se construir sua identidade refletida nas redes sociais. Pois, sempre vai precisar ser visto e assim ‘existir’.
Leite avalia ainda que as redes sociais incentivam as experiências emocionais usando o extraordinário e o arriscado.
“Isso estimula o voyeurismo dos espectadores. A viralização amplifica o alcance destes conteúdos, aumentando a monetização e o reforço positivo das ‘curtidas’. Será que necessitamos ser tão ‘curtidos’ para nos sentirmos existindo?” Esta reflexão é fundamental.”
Punições
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Mogi das Cruzes e doutor em direito penal, Dirceu Valle, explica que esse tipo de vídeo pode ser considerado crime e gerar penalidades para quem produz.
“Nesse caso, em tese, estamos diante de um crime de perturbação do serviço da estrada de ferro previsto no artigo 260 do Código Penal, cuja pena é de 2 a 5 anos de reclusão”.
Para Valle condutas como essa podem ainda caracterizar crime de perigo para a vida e dependendo das consequências e da intenção da gravação, indução ao suicídio.
O que diz a CPTM
“A CPTM investe em patrulhamento ostensivo e preventivo nos trens, faz rondas 24 horas por dia em todo o sistema e conta com o apoio da Polícia Civil e Militar. Atualmente, a CPTM possui 3.500 câmeras divididas entre suas 57 estações, pátios e subestações de energia, e 5.800 dentro das suas composições. Além disso, conta com a Central de Monitoramento da Segurança Patrimonial e adquiriu 160 bodycams.
Vale ressaltar que o acesso à faixa ferroviária é expressamente proibido, conforme a Norma Geral de Transporte, Tráfego e Segurança (NTS), amparada pelo Decreto Federal 1.832, de 04/03/96, podendo causar risco à integridade física de quem comete a imprudência, além de comprometer a segurança dos passageiros e do sistema ferroviário.
Na última terça-feira (24/6), a equipe de segurança da CPTM foi acionada após a invasão de via, nas proximidades da estação Aracaré. Quando os agentes chegaram, a pessoa havia fugido, o que impossibilitou sua detenção e identificação. Entre janeiro e maio deste ano, foram registrados quatro casos de invasão de via na Linha 12-Safira, número 20% menor em comparação ao mesmo período de 2024. Os casos são registrados e a companhia colabora com a investigação policial”.
O que diz a SSP
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que imagens publicadas nas redes sociais mostram um dos homens deitado sobre a linha férrea, aparentemente aguardando a aproximação de um trem enquanto o outro registrava a ação com um celular.
De acordo com a SSP, o maquinista ao perceber a presença do homem nos trilhos, acionou o Centro de Comunicação de Ocorrência (CCO) da CPTM para evitar um acidente.
O vídeo foi apresentado à Polícia Civil e o caso registrado como perigo de desastre ferroviário e incitação ao crime na Delegacia de Itaquaquecetuba
FONTE: G1