Soma das dores das mães enlutadas pela violência armada é mote da nova campanha do Instituto Sou da Paz


MarIA personifica, em uma só mulher, a dor de todas que perderam pessoas queridas vitimadas por armas de fogo

A violência armada produz um duplo ônus para as mulheres brasileiras: as que sofrem violência, muitas vezes baseada em seu gênero, e a dor da perda de seus entes, sejam eles seus filhos, maridos, pais, irmãs ou amigas. Metade das mortes por agressão de mulheres em 2023 foram cometidas com armas de fogo, 72% dessas mulheres eram negras e 59% eram jovens e adultas de até 39 anos. E essa dor do luto e da busca por justiça diante da perda de pessoas próximas também tem rosto e raça predominantes: quase 78% das vítimas de armas de fogo em 2023 eram pessoas negras, sendo mais da metade (54%) jovens de 15 a 29 anos e 94% homens, segundo pesquisa do Instituto Sou da Paz com dados do Datasus/Ministério da Saúde.

Na busca de uma porta-voz que representasse essa dor da perda familiar, o Instituto Sou da Paz deu vida à MarIA, personagem construída com Inteligência Artificial que incorporou milhares de referências visuais representativas do perfil prevalente das mães de vítimas da violência armada no país.

O filme de um minuto de duração se inicia com MarIA se apresentando de forma impactante: “Eu me chamo Maria, Lúcia, Helena…Tânia. O nome que você pensar já vai ter perdido um filho ou uma filha para a violência armada”. E segue: “Nós também somos vítimas. Eu sou a soma de todas as dores. E dou voz a mães e famílias que choram sem ser ouvidas”. Como mensagem final, a campanha incentiva a entrega voluntária e anônima de armas, resgatando as primeiras campanhas realizadas pelo Instituto na década de 1990.

“Essa campanha tem como objetivo trazer novamente as vítimas e seus familiares para o centro do debate. Quando falamos da necessidade de uma regulamentação responsável que estabeleça critérios rígidos para o acesso a armas, estamos falando sobre preservar as vidas de pessoas e impedir que tragédias evitáveis aconteçam”, diz Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. 

No vídeo, a fala de MarIA é acompanhada de uma narração masculina que contextualiza que muitas das mortes poderiam ter sido evitadas se armas não estivessem facilmente disponíveis. “Estamos convidando a população a pensar sobre o perigo da presença da arma somada a um segundo de descontrole, o que pode levar a acidentes com crianças, feminicídios, mortes por brigas banais em trânsito, por isso divulgamos a existência de um canal do Ministério da Justiça para que as pessoas se desfaçam de uma arma de fogo, seja ela legal ou ilegal, de forma segura e anônima, recebendo uma indenização monetária por isso”, comenta Carolina. 

A campanha , criada e desenvolvida pela agência Troup, Cyranos em parceria com a Alegria ®, foi realizada pela produtora Love Pictures Company, consumiu duas semanas de trabalho de IA e mais de 300 prompts, viabilizados pela combinação dos programas ChatGPT, Midjourney, Photoshop, Magnific ai, Runway, Kling e Topaz. Além do envolvimento de ?quatro IA Filmmakers e duas diárias de gravação com uma atriz, a fim de captar voz e expressão corporal como referência. Todo o trabalho de som foi desenvolvido pela Antfood, que deu voz à MarIA através da interpretação cuidadosa de locutoras negras e pardas das cinco regiões do Brasil.

“Muito se fala sobre como a IA está sendo usada para substituir o fator humano na comunicação, buscando mimetizar sentimentos através personagens que não existem e só para baratear produções. Fomos no caminho do propósito por trás da ferramenta: a MarIA existe, só não é vista”, declara Marcelo Reis, fundador da Alegria, hub de criatividade estratégica responsável pela criação da campanha. “A IA, nesse caso, cumpriu seu papel: deu vida à soma de milhares de rostos, o que seria impossível de apresentar em uma peça de comunicação de forma emocionante. Só a Inteligência Artificial conseguiria chegar aos traços qualitativamente corretos deste rosto”, reflete Marcelo.

Acesse a campanha: https://lp.soudapaz.org/maria

Sobre o Instituto Sou da Paz

O Instituto Sou da Paz é uma organização da sociedade civil que nasceu da mobilização pública e que existe há 25 anos com o objetivo de contribuir para a efetivação de políticas públicas de segurança e prevenção da violência, pautadas por valores de democracia, justiça social e direitos humanos. Atuamos por meio da mobilização da sociedade e do Estado, bem como pela difusão de práticas inovadoras nessa área. As ações são pautadas por três eixos: pesquisa na área de segurança pública, desenvolvimento de propostas de políticas públicas e mobilização do público amplo e tomadores de decisão estratégicos.

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