A vida depois do transplante: cuidados, gratidão e esperança para o paciente recomeçar

Mesmo sem conhecer doador, receptores agradecem todos os dias pela nova chance e enfrentam adaptação após cirurgia. Profissionais destacam o impacto da doação de órgãos.

Após um transplante de órgão, começa uma nova fase para o receptor: cheia de cuidados, restrições e esperança. E, principalmente, gratidão. Nos primeiros meses, o paciente precisa evitar qualquer risco de infecção, já que o sistema imunológico fica comprometido pelos medicamentos que impedem a rejeição do órgão. Esses remédios, chamados imunossupressores, são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de saúde (SUS).

Nesta série de reportagens da TV TEM, apresentada pela jornalista Mayara Corrêa, que é transplantada, conheça como um “sim” pode mudar a vida de alguém por intermédio do Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos.

Recuperação após o transplante é cheia de cuidados, restrições e esperança — Foto: Reprodução/TV TEM

O cirurgião Renato Hidalgo, especialista em transplante hepático, reforça que o sucesso do tratamento depende também do paciente. “Ele precisa tomar os medicamentos nos horários certos, manter uma alimentação rica e regular, e fazer os exercícios indicados. O paciente tem papel fundamental para tudo dar certo.”

Renato compara cada transplante a uma conquista coletiva. “Não é como um jogo. É como um campeonato. Levantar a taça é algo que marca todo mundo”. Ele também destaca o papel das famílias. “As famílias dos doadores e dos receptores são essenciais. São elas que tornam o transplante possível.”

Além dos médicos, equipe interdisciplinar tem grande importância no pós-cirúrgico — Foto: Reprodução/TV TEM

Além dos médicos, equipe interdisciplinar tem grande importância no pós-cirúrgico — Foto: Reprodução/TV TEM

Também destaco a importância da equipe interdisciplinar. Ser recebida com um sorriso na consulta, sentir a empolgação da equipe ao ver que estou bem, me dá esperança. A confiança que eles depositam em mim me fortalece.

Renato costuma dizer que “a gente casa com o paciente”. “Depois do transplante, ele traz tudo: família, amigos, outros médicos. Sempre que precisa de algo, volta para gente. E esse vínculo ultrapassa a relação médico-paciente. Fica muito próximo.”

Diga “sim”

809 pessoas morreram enquanto esperavam por um órgão entre janeiro e março — Foto: Reprodução/TV TEM

809 pessoas morreram enquanto esperavam por um órgão entre janeiro e março — Foto: Reprodução/TV TEM

Entre janeiro e março deste ano, 809 pessoas morreram enquanto esperavam por um órgão, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Cada doação representa um renascimento.

“Lidar com transplantes é um desafio diário. Mas a satisfação de devolver uma vida normal a tantas pessoas compensa a frustração de não conseguir atender todos. A gente não esquece dos que não conseguiram. E luta todos os dias para oferecer essa chance a mais pessoas. Sem doação, não há transplante”, lembra o médico Ben-Hur Ferraz Neto.

Francisco Monteiro, médico coordenador do Sistema de Transplantes de SP, se emociona ao falar sobre os reencontros. “Quando encontramos alguém como você, andando normalmente, e a pessoa diz que fez um transplante de fígado… isso não tem preço. É gratificante ver alguém que estava acamado voltar à sociedade. E saber que o pouco que temos foi bem utilizado.”

José Santos da Silva Junior, enfermeiro especialista em transplantes, completa: “Talvez esse seja nosso combustível diário. O reconhecimento dos pacientes, um abraço… é isso que nos move. Escolhemos essa vida e fazemos com muito orgulho.”

Pergunto ao doutor Renato: “Fui uma boa paciente? Dei trabalho?”

Ele responde: “Você é uma ótima paciente. Deu trabalho, sem dúvida. Mas tecnicamente seu transplante não foi dos mais desafiadores. O maior obstáculo foi encontrar um doador compatível, por conta das suas características físicas. No pós-operatório, você seguiu tudo à risca. Por isso, hoje leva uma vida saudável e voltou a ter alegria.”

Quis saber também do doutor Glauco: “Como foi a minha cirurgia?”

Ele sorriu: “Desafiadora.” “Porque estávamos operando alguém que a gente gosta. Foram meses de convivência, visitas diárias, enfrentando febres, reinternações, momentos bons e ruins”. “Todo mundo se emocionou no seu transplante”, completou.

Mayara Corrêa e a filha, Melissa — Foto: Reprodução/TV TEM

Mayara Corrêa e a filha, Melissa — Foto: Reprodução/TV TEM

Enquanto ele falava, lembrei de como foi difícil me despedir e sair de casa. Da emoção das pessoas quando contei que estava no hospital esperando pela cirurgia. E da minha força de vontade em retomar a rotina, em segurar minha filha no colo.

“A gente cuida do paciente antes e depois do transplante. Isso cria um vínculo. Queremos vê-lo bem, saudável, de volta à família. Participar do transplante de alguém tão próximo é sempre muito forte”, disse Glauco.

Ele me perguntou: “Você já imaginou servir a um propósito tão grande? Se ninguém tivesse doado para você, essa campanha não existiria. Agora, com essa reportagem, imagina quantas vidas você vai ajudar a salvar? Eu só consigo salvar uma por vez. Você pode ajudar muitas.”

Muito obrigada

Uma das regras do sistema de transplantes é que não haja contato entre a família doadora e quem recebeu o órgão. Por isso, não sei o seu nome. Mas quem permitiu que eu e outras pessoas tivéssemos uma nova chance de viver depois da sua partida… Posso ter certeza de que sua passagem por aqui foi especial. Alguém, mesmo com muita dor, multiplicou o amor.

Ninguém precisa partir para que outras pessoas continuem a viver. Isso eu aprendi nesse processo todo. Aprendi que, na verdade, uma perda pode ser a esperança de muitas pessoas.

— Mayara Corrêa

Agora eu falo com você… O seu “sim”, depois de perder alguém que ama, trouxe vida pra mim e pra outros que também esperavam. Eu agradeço todos os dias por isso. Por realizar sonhos e fazer tantos outros. E me esforço para fazer valer essa minha nova vida. A vocês, que dizem sim à doação de órgãos, o meu eterno e muito obrigada.

Mayara e o médico Glauco Perticarrari — Foto: Reprodução/TV TEM

Mayara e o médico Glauco Perticarrari — Foto: Reprodução/TV TEM

❤️🏥 Amor que salva

  • Reportagem e apresentação: Mayara Corrêa
  • Imagens: Fábio Modesto
  • Edição de imagem: Mônica Silva
  • Edição de arte: Mariele Santos
  • Edição de texto web: Eric Mantuan

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