Premiados no Marrocos, projetos como Caiman, no Pantanal, e Mirante do Gavião, na Amazônia, jogam luz à união entre biodiversidade e turismo consciente

Daniela Filomeno em experiência no Caiman, Pantanal, no Mato Grosso do Sul • CNN Viagem & Gastronomia
O turismo sustentável vem ganhando protagonismo no Brasil e no mundo. Essa expansão acompanha uma tendência global: 78% dos viajantes latino-americanos já priorizam experiências ecoconscientes e culturais, de acordo com a Latin America Travel Association (LATA), enquanto mais de 50 países, incluindo o Brasil, assinaram a declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) para reduzir emissões e desenvolver o turismo de forma mais ecológica.
Na prática, nosso país tem transformado a biodiversidade em ativo estratégico para o futuro. Da meta de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030 (quase três vezes o tamanho da Holanda), até o fortalecimento do turismo comunitário na Amazônia, o Brasil se firma como referência em turismo de impacto positivo.
Para nossa sorte, o aumento no número de visitantes internacionais também ajuda a impulsionar esse potencial. No primeiro semestre de 2025, o país recebeu 5,3 milhões de turistas estrangeiros, um crescimento de 48,2% em relação ao ano anterior, injetando US$ 4,1 bilhões (cerca de R$ 22,6 bilhões) em território nacional, segundo o Ministério do Turismo. Mas o Brasil tem competência para mais.
No geral, a previsão é que o turismo movimente US$ 167,6 bilhões no Brasil em 2025 (cerca de R$ 907 bilhões), o equivalente a 7,7% do PIB nacional, sustentando 8,2 milhões de empregos, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC).
Reconhecimento pela conservação do Pantanal
Com tantos números e desejos em vista, o Brasil acaba de dar um passo além. O país ganhou protagonismo internacional no PURE Life Experiences 2025, o maior encontro de turismo de experiências do mundo, finalizado nesta quinta-feira (11) em Marrakech, no Marrocos.
Dos quatro prêmios principais do PURE Awards, fomos honrados com dois. O Caiman, Pantanal foi premiado na categoria Conservação (Green Guardian) pelo projeto de regeneração da flora e fauna pantaneira após os devastadores incêndios na região.
“Mais do que uma honra, esse prêmio é um reconhecimento do poder que o turismo tem de preservar o planeta. São quase 40 anos de história da Caiman, sempre com a missão de conservar a fauna, a flora e a cultura do Pantanal que conheci e que me encantei ainda na infância”, conta Roberto Klabin, fundador do Caiman, Pantanal.
Já estive no Caiman para o CNN Viagem&Gastronomia e pude ver com meus próprios olhos como a iniciativa é uma poderosa aliada na preservação de um dos biomas mais ricos do planeta. É um reconhecimento significativo tanto para a propriedade quanto para a conservação do Pantanal como um todo.
Os desafios chegam, mas nossa vontade de ver este bioma vivo é pulsante, não se apaga nunca. Uma vitória como essa nos ajuda a levar ainda mais ao mundo a importância desse bioma
Roberto Klabin, fundador do Caiman, Pantanal
O Caiman fica no município de Miranda (MS), ocupando o que já foi uma estância inglesa. Roberto, que antes de mais nada é um ambientalista, assumiu a área em 1985 e iniciou um projeto de manejo sustentável. Ele entendeu que a pecuária extensiva poderia ser integrada à natureza em campos de pastagem naturais e artificiais.
Dos 53 mil hectares, 5.600 são Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que garante a preservação perpétua do bioma. Temos à disposição duas hospedagens: a Casa Caiman, com 18 suítes, e a Villa privativa, com seis suítes. A estadia apoia diretamente projetos importantíssimos, como o Onçafari, que luta pela conservação das onças-pintadas, e o Instituto Arara Azul, que monitora e ajuda no aumento da população de araras-azuis.
Transformações na Amazônia
Já na categoria Profissional Transformador do Setor (Change Maker), o prêmio foi para o brasileiro Ruy Carlos Tone, sócio do Mirante do Gavião Amazon Lodge, hotel de selva à beira do Rio Negro, no Amazonas, que engloba a floresta, seus conhecimentos e seu povo, atuando como agente transformador regional.
Ele também é criador do projeto educação Ribeirinha, que tem como objetivo reconstruir 25 escolas ribeirinhas em Novo Airão (AM), além de defender a educação como base para a preservação da floresta e para garantir futuro às novas gerações.
“É emocionante saber que um trabalho de pequena escala, em uma pequena cidade amazônica, mas feito com muito carinho e dedicação, com tanta gente linda contribuindo, fez isso acontecer. A Amazônia merece e precisa desse amor”, diz Ruy.
De frente para o Parque Nacional de Anavilhanas, o Mirante do Gavião nasceu como ponto de apoio para barcos que percorriam o Rio Negro, mas logo virou um destino por si só. Hoje, a hospedagem conta com 13 bangalôs, todos baseados nas técnicas amazônicas de construção naval – além de serem confortáveis e sofisticados, são ecologicamente corretos.
Aqui, digo que o turismo tradicional fica para trás e o esplendor da Amazônia é revelado por meio da integração com a selva e a população local. É uma hospedagem que envolve experiências com propósito, impactando as comunidades ribeirinhas e beneficiando a floresta. Basta trocar um papo caloroso com a equipe para notar que quase todos são da própria região.
Outros destaques
Os outros dois prêmios do PURE Awards foram entregues para iniciativas da Ásia. O de Criatividade foi para o Arimasansoh Goshobessho, no Japão, que preserva o que já foi um templo. Hoje, se transformou em um hotel no estilo ryokan em meio a uma vila de fontes termais.
Por fim, o prêmio voltado à Comunidade foi para o The Happy House, hospedagem no Nepal que era usada pelos xerpas. Foi restaurada e dispõe de dez quartos, promovendo experiências com a comunidade da vila de Phaplu, como trilhas de mountain bike por colinas, vales e florestas.
São prêmios como esses que jogam luz a iniciativas que fazem a diferença, inspirando a indústria a repensar o futuro das viagens. O PURE, por exemplo, funciona como um ponto de convergência para líderes do setor que buscam criar experiências que unem autenticidade e impacto social, tudo embalado por propósito.
Hotéis, operadores especializados, designers de viagens, consultores independentes e jornalistas de renome internacional, além de executivos e tomadores de decisão, se encontram para fechar parcerias, discutir tendências e, sobretudo, repensar o papel do turismo no mundo.
Neste ano de Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que desembarca em Belém, as conquistas vêm para ressaltar que o Brasil pode assumir um papel de liderança no turismo ecoconsciente, provando que preservação e crescimento podem andar juntos. Temos transformado a nossa biodiversidade em força econômica e cultural, posicionando o país como referência global em turismo sustentável e de impacto positivo.
FONTE: CNN BRASIL