Central de Transplantes de São Paulo conecta doações a pacientes 24 horas por dia

Sistema automatizado cruza dados e define ordem na fila. Maioria dos transplantes vem de doadores falecidos, mas há formas de fazer a diferença na vida de alguém em vida.

A Central de Transplantes do Estado de São Paulo funciona 24 horas por dia. É lá que equipes cruzam dados, verificam informações e conectam doações de órgãos aos pacientes que aguardam na fila. Os profissionais lidam com doações que chegam de todas as regiões do Brasil.

O sistema é automatizado. As equipes médicas inserem os dados dos pacientes e, quando há uma doação, o próprio sistema cruza as informações e gera uma lista com os possíveis receptores. A seleção segue critérios específicos.

Central de Transplantes do Estado de São Paulo funciona 24 horas por dia — Foto: Reprodução/TV TEM

Nesta série de reportagens da TV TEM, apresentada pela jornalista Mayara Corrêa, que é transplantada, conheça como um “sim” pode mudar a vida de alguém por intermédio do Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos.

“O sistema considera grupo sanguíneo, peso, altura e idade do paciente. Com esses dados, ele seleciona os receptores de acordo com a legislação vigente em São Paulo e no Brasil. O plantão é 24 horas. Como recebemos notificações de vários doadores ao mesmo tempo, nossa equipe não para”, detalha Francisco Monteiro, médico coordenador do Sistema de Transplantes de SP.

Francisco Monteiro, médico coordenador do Sistema de Transplantes de SP — Foto: Reprodução/TV TEM

Francisco Monteiro, médico coordenador do Sistema de Transplantes de SP — Foto: Reprodução/TV TEM

O processo começa com a OPO, Organização de Procura de Órgãos. “A notificação pode vir do hospital, da comissão intra-hospitalar ou da própria OPO. Mas o potencial doador precisa passar por vários exames e etapas até ser confirmado”, ressalva o médico.

Para confirmar a morte encefálica, são feitos dois testes clínicos e um exame complementar que comprova a ausência de atividade cerebral. No dia da visita à Central de Transplantes, a equipe havia recebido a notificação de um doador de 26 anos, de Guarulhos. A médica Iara Alves de Camargo atua na central há 19 anos.

“A rotina é imprevisível. Às vezes chegam vários doadores ao mesmo tempo, e é uma correria. Quando recebemos um doador, fazemos uma análise preliminar. A decisão final é das equipes transplantadoras. Mas, quando acreditamos que os órgãos podem ser aproveitados, ficamos felizes”, afirma a médica plantonista Iara Alves de Camargo.

Iara Alves de Camargo, médica plantonista — Foto: Reprodução/TV TEM

Iara Alves de Camargo, médica plantonista — Foto: Reprodução/TV TEM

Cada órgão tem critérios específicos para definir a ordem da fila. No caso dos rins, o tempo de espera é o principal fator. Para coração e pulmão, além do tempo, a gravidade do quadro também conta. Crianças, adolescentes e pacientes que já passaram por transplante têm prioridade.

“Alguns pacientes têm urgência extrema. Se não forem transplantados logo, podem morrer. Esses casos são chamados de priorizados e ficam no topo da lista, independentemente da data de inscrição”, diferencia Monteiro.

Prioridade na lista de transplantes é determinada pela urgência dos casos — Foto: Reprodução/TV TEM

Renato Hidalgo é chefe da equipe de transplante de fígado de um hospital particular em Sorocaba. No caso do fígado, a lista precisa ser atualizada constantemente com os dados de saúde do paciente.

“No caso do fígado, usamos a gravidade do paciente como critério. Existe uma conta matemática feita com exames de sangue que mostra quem está mais grave. Por justiça, esses pacientes ficam na frente da fila”, explica.

Essa conta se chama MELD. O valor varia de 6 a 40 e indica a gravidade do paciente. Segundo Hidalgo, o transplante de fígado é uma das cirurgias mais delicadas.

“Entre as cirurgias abdominais, o transplante de fígado é o mais complexo. Há dois momentos críticos: o primeiro é quando o paciente fica sem fígado, e precisamos manter suas condições estáveis. O segundo é após a implantação, quando o novo órgão precisa começar a funcionar imediatamente.”

Renato Hidalgo, chefe da equipe de transplante de fígado de um hospital particular em Sorocaba (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM

Renato Hidalgo, chefe da equipe de transplante de fígado de um hospital particular em Sorocaba (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM

Fazendo a diferença em vida

A maior parte dos transplantes no Brasil é feita com doações após a morte. Mas também existe a possibilidade de doar órgãos em vida — como rim, parte do fígado ou dos pulmões. Quando o doador não é parente do receptor, é preciso autorização judicial.

Adauto Nunes doou parte do fígado ao irmão, José Roberto — Foto: Reprodução/TV TEM

Adauto Nunes doou parte do fígado ao irmão, José Roberto — Foto: Reprodução/TV TEM

Adauto Nunes doou parte do fígado ao irmão, José Roberto, que tinha hepatite C. O tratamento não funcionou, e os médicos alertaram que ele teria apenas dois meses de vida, embora pudesse esperar até dois anos na fila.

“Um dia, minha irmã me ligou perguntando se eu podia doar. Eu disse sim na hora! Às vezes me surpreendo com a forma como encarei essa missão. E deu tudo certo”, celebra Adauto, que precisou vencer o medo de enfrentar uma cirurgia para salvar o irmão, que vive em Botucatu (SP).

Mesmo com anos de experiência na área da saúde, como médico veterinário no zoológico de Sorocaba, ele nunca tinha passado por algo parecido. “Engoli em seco. Sou meio fraco com sangue. Para colher meu sangue, preciso virar o rosto para não desmaiar”, conta.

“Tinha esperança de me curar, mas sabia que meu irmão estava arriscando a própria vida. Graças ao amor do meu irmão por mim, hoje levo uma vida normal. Me aposentei. O pedaço do fígado que ele me deu cresceu e voltou ao tamanho original. E ele também se recuperou, comemora José Roberto.

“Quando a gente se encontra, pergunto: está cuidando bem do meu fígado? Ele responde: pode deixar. Tenho orgulho de ter feito isso pelo meu irmão. Fico emocionado”, responde Adauto.

Adauto precisou vencer o medo de enfrentar uma cirurgia para salvar o irmão — Foto: Reprodução/TV TEM

Adauto precisou vencer o medo de enfrentar uma cirurgia para salvar o irmão — Foto: Reprodução/TV TEM

É motivo de orgulho saber que sua vida salvou a de outra pessoa.

❤️🏥 Amor que salva

  • Reportagem e apresentação: Mayara Corrêa
  • Imagens: Fábio Modesto
  • Edição de imagem: Mônica Silva
  • Edição de arte: Mariele Santos
  • Edição de texto web: Eric Mantuan

Fonte: G1

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