Antônio Quessada morreu na quarta-feira (16) após contrair uma pneumonia.
Uma pessoa extremamente ativa para os 108 anos de idade. Assim era Antônio Quessada, que morreu na tarde de quarta-feira (16) em Pratânia (SP), onde era conhecido e celebrado como o morador mais velho do município e um dos mais idosos do Estado de São Paulo. Com sua morte, vai embora também uma parte do estilo de vida que marcou a história do interior paulista.
Familiares e amigos ouvidos pela reportagem do g1 lembram, que mesmo centenário, Seu Antônio permanecia dirigindo a Parati branca com a qual se deslocava de um lado para outro da cidade, sempre em companhia do cachorro Pitoco.
Um dos lugares que o pedreiro aposentado sempre frequentava era a Prefeitura de Pratânia. Tratado como celebridade, Seu Antônio logo era chamado pelas servidoras para posar para fotos com elas.
“Mesmo centenário, ele vinha para fazer algum serviço, pegar o carnê do imposto predial ou para conversar com o prefeito”, conta o diretor municipal de Comunicação e eventos, José Carlos Aparecido Nunes.
Aliás, o prefeito Osmir Felix (PP) gostava de se aconselhar com o ilustre cidadão de Pratânia antes de iniciar alguma obra, principalmente no bairro da Pratinha, onde morava o idoso.
“O Seu Antônio dava opinião. Depois pegava o carro e ia conferir in loco as obras da prefeitura, como um fiscal mesmo. Era um cidadão fiscalizador”, revela o assessor de comunicação.
Como reconhecimento, o prefeito foi com a equipe até a casa parabenizar Antônio Quessada por ocasião do aniversário de 106 anos, dois anos atrás. Não podia faltar o tradicional cafezinho, preparado pelo próprio Antônio.
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Antônio Quessada, com a Parati branca que dirigia ainda aos 108 anos, indo de um lado para outro e visitando obras da Prefeitura, em Pratânia (SP) — Foto: Lígia Quessada Corazza/Arquivo pessoal
De bem com a vida
“Ele era extremamente feliz, de bem com a vida, sempre com o jeito dele”, disse ao g1 a bióloga Lígia Carolina Quessada Corazza, uma das netas dele.
Ela conta que o avô fazia questão de morar sozinho na casa, no Pratinha, mantendo os cuidados diários e a rotina de dormir e acordar cedo. Não podia faltar a soneca depois do almoço – popular “sesta” entre os espanhóis, de quem Seu Antônio descendia.
“Todo dia era um sono de 40 minutos a 1 hora depois do almoço. Era um hábito que herdou do pai, que veio da Espanha, e que sempre mantinha. Meu avô dizia que ia ‘fazer o quilo’ ”, revela Lígia.
Passada a soneca, Seu Antônio não parava. Quando estava reunido com a família, lembrava-se das histórias que viveu e que se misturam com a história de Pratânia.
Uma delas foi trabalhar como cozinheiro para as tropas paulistas, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, lembrada anualmente no feriado estadual de 9 de julho. “A gente se reuniu no último feriado e ele contou essas memórias para os netos”, diz Lígia.
Até no nome Seu Antônio se diferenciava: conforme a neta, ele foi registrado sem o Gimenes no sobrenome, como ocorreu com alguns membros da família.
Nos últimos tempos, ele já não andava bem de saúde. Tinha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) que afetou o lado direito. Mas foi uma forte pneumonia que interrompeu a trajetória do sempre ativo descendente de imigrantes espanhóis.
Durante o tempo em que permaneceu internado em hospitais ou em casa, não faltaram cuidados dos familiares e a companhia do inseparável cão Pitoco, que permaneceu sob a cama aguardando a recuperação do tutor. Mas o coração parou e Seu Antônio descansou.
“Ele foi um exemplo para nós”, afirma Lígia Quessada Corazza.

Com o inseparável cão Pitoco, que Antônio Quessada levava para todos os lugares que ia; animal permaneceu junto até o fim — Foto: Lígia Quessada Corazza/Arquivo pessoal
Seleto grupo
Seu Antônio integrava o grupo dos centenários brasileiros, que soma 37 mil pessoas espalhadas pelo país, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Estado de São Paulo, são 5.094 pessoas.
Por uma diferença de dois anos, ele não ultrapassou a marca dos supercentenários (a partir dos 110 anos), com 54 pessoas em todo o mundo.
Por conta da idade, ele foi personagem de diversas reportagens na televisão, entre elas a Caravana TV TEM 20 anos, quando passou por Pratânia em 2023.