Cidade proibiu uso das sacolas plásticas no comércio e cobrança dos estabelecimentos pelo fornecimento das sacolas ecológicas. Discussões sobre a lei motivaram estudo sobre microplásticos e mudanças de hábito em escola.

Professores de biologia e química desenvolveram as atividades de pesquisa sobre o plástico em Marília — Foto: Maycon Oliveira/TV TEM
Quase um mês após alterar uma lei de 2011 para proibir a distribuição gratuita de sacolas plásticas, a Câmara de Marília (SP) aprovou e a prefeitura sancionou um substitutivo que obriga os supermercados a fornecerem gratuitamente sacolas ecológicas.
A medida, validada em sessão extraordinária na segunda-feira (11), prevê fiscalização pelo Procon e multa de até R$ 4.812,60, dobrando em caso de reincidência. Os recursos arrecadados vão para o Fundo Municipal do meio ambiente.
A lei também prevê ações educativas nas escolas municipais. Essas mudanças na lei reacendem o debate sobre sustentabilidade e eficácia ambiental nas políticas públicas.
Enquanto a cidade discute a nova lei, alunos do ensino médio de uma escola particular aproveitaram o contexto ambiental para desenvolver um projeto interdisciplinar na disciplina de ciências da natureza.
O foco foi a reciclagem de materiais e os efeitos dos micro e nanoplásticos na saúde e no meio ambiente. O trabalho foi orientado pelos professores Leandro Muller, de biologia, e Diogo Almeida, de química.

Projeto ambiental sobre o plástico foi desenvolvido em escola de Marília — Foto: Maycon Oliveira/TV TEM
“A ideia surgiu como uma forma de fazer com que os alunos percebessem que os conteúdos de sala de aula dialogam diretamente com os problemas reais do mundo em que vivem. Falamos muito sobre poluição, mas é diferente quando você estuda como isso afeta o próprio corpo, o ambiente em que vive e as pessoas ao redor. Foi isso que motivou esse projeto”, explica o professor Leandro.
Os alunos foram convidados a aprender conceitos, a pesquisar, criar hipóteses, ler artigos científicos e aplicar esse conhecimento.
Divididos em grupos, os estudantes elaboraram cartazes, painéis, slides e banners para compartilhar os aprendizados com colegas de outras turmas.
“Poucos sabiam o que eram micro e nanoplásticos. Ao longo das atividades, eles ficaram entusiasmados, surpresos e começaram a debater o tema em casa e com os amigos”, lembra Leandro.

Câmara de Marília (SP) aprova lei que proíbe cobrança por sacolinhas ecológicas — Foto: Reprodução/TV TEM
Jovens conscientes
Foram dias de estudo, pesquisa e muitas conversas até que os alunos conseguissem desenvolver os materiais educativos para compartilhar com a comunidade escolar. Eles mergulharam em temas complexos, como a degradação dos plásticos e os impactos ambientais e à saúde causados pelos micro e nanoplásticos.
“Pesquisamos maneiras de identificar microplásticos com inteligência artificial. Descobrimos uma tecnologia nacional que usa proteína de teia de aranha para filtrar a água. Fiquei impressionado. Depois disso, parei de usar garrafas plásticas em casa e evito colocar comida em plástico no micro-ondas. Mudei meus hábitos”, conta Guillermo Carapello, do 2º ano.
Foi um processo de aprendizado intenso que despertou o interesse de muitos para questões que, até então, pareciam distantes do dia a dia.
“Eu sabia que o plástico demorava para se degradar, mas não imaginava que ele se fragmenta em partículas tão pequenas e perigosas. Estudei sobre o impacto no sistema endócrino, com riscos de obesidade, infertilidade e outros desequilíbrios hormonais”, destaca a estudante Laura Sartori.
“Quando saiu a notícia da nova lei das sacolinhas, comentamos na escola. Ficou claro que ainda há desinformação sobre o que realmente é biodegradável”, completa.
Uma das fontes de estudo foram artigos científicos. Antonella, de 15 anos, mergulhou no assunto. “Li sobre um estudo britânico que relacionou microplásticos ao entupimento de artérias. Isso despertou um interesse maior pela área cardiovascular. Me aprofundei muito nesse assunto.”
Os estudantes também compreenderam com o trabalho a importância das pequenas atitudes diárias.
“Aprendi que a gente faz escolhas diárias que podem mudar completamente as nossas vidas. No final, a gente pode não ter uma influência tão grande hoje em dia, pode não perceber que muda realmente, mas, no futuro, essas mudanças podem trazer muitos benefícios para o nosso corpo e para a nossa vida. A gente pode conseguir achar um jeito de viver, literalmente, de uma forma melhor. Essas escolhas impactam diretamente nossa saúde e o planeta. Pequenas mudanças fazem diferença”, afirma Antonella.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/F/z/i0gFjUQ8KqYPBHZizekA/whatsapp-image-2025-08-13-at-10.30.54-2-.jpeg)
Estudantes de Marília desenvolveram cartazes educativos sobre os materiais e seu ciclo na natureza — Foto: Maycon Oliveira/TV TEM
Dia Mundial de Combate à Poluição
Celebrado em 14 de agosto, o Dia Mundial de Combate à Poluição alerta a população para os riscos gerados pela poluição do ar, da água e do solo como descarte irregular de resíduos, emissão de gases tóxicos e degradação ambiental.
A data reforça que apenas políticas não bastam: é preciso mudança de comportamento individual e coletivo.
“Hoje a gente não vê mais a sacolinha como algo descartável. A gente pensa no destino dela: lixão, rio, mar. Essa consciência precisa vir desde cedo”, alerta o biólogo Leandro.
A discussão da legislação das sacolinhas, combinada ao engajamento científico dos estudantes e à reflexão proposta pelo Dia Mundial de Combate à Poluição, mostra que a defesa do meio ambiente é caminho entrelaçado entre decisão política, educação e ação individual.
Em Marília, essa conexão tem deixado de ser apenas teoria para se tornar prática com alunos inspirados, professores engajados, leis em debate e uma consciência coletiva em construção.