A Black Friday de 2025 acontece na sexta-feira, 28 de novembro. E apesar de a data ainda estar longe, muitas empresas e comércios já estão lançando suas promoções e “esquentas” para a temporada de compras. Com tantas opções de ofertas físicas e digitais, entrega rápida e possibilidade de parcelamento e cashback, para os que têm tendência à impulsividade, esse é o cenário perfeito para se tornar um devedor na praça.
Para ajudar os consumidores a fazerem boas compras, o coordenador do curso de MBA em Gestão de Negócios da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Roberto Falcão dá dicas para o consumidor aproveitar a ocasião para comprar mais barato, evitando cair em “fraudes”.

DESCONFIE DAS PROMOÇÕES
O consumidor deve ficar atento ao preço médio do produto que queira comprar, evitando promoções enganosas como as que oferecem desconto em cima de um preço inflacionado (aumentar o preço alguns dias ou semanas antes, para então “dar um desconto”), como costuma acontecer durante o período de Black Friday.
“Se há parcelamento, é preciso prestar atenção nos juros embutidos, as empresas são obrigadas a informar a taxa de juros ao consumidor. Pode acontecer também de algumas organizações já embutirem os juros no preço à vista, ganhando duplamente nas formas de pagamento”, afirma Falcão.
GATILHOS MENTAIS
Uma forma de influenciar os consumidores são os gatilhos mentais, muito explorados pelo marketing. São aspectos como a reciprocidade (a empresa dá “algo de graça” ou alguma vantagem), autoridade (provas de quantidade ou qualidade do serviço ou produto) e prova social (consumidor que fala bem da empresa ou do serviço oferecido).
“Quando o consumidor conhece e identifica esses gatilhos, fica evidente como a empresa trabalha aquela venda. Outra coisa a se reparar é o chamado copy, forma específica de se escrever anúncios e chamarizes de forma imperativa, para persuadir o consumidor”.
BRASILEIRO GOSTA DE VANTAGEM
O docente afirma que o brasileiro gostar da ideia de ganhar algo, outro aspecto que costuma ser decisivo para uma compra por impulso. “Se você ganha algum desconto em um produto, provavelmente não vai lembrar no dia seguinte. Mas se o lojista te dá um brinde físico, como uma simples caneta, por exemplo, esse brinde te marca e você ainda sai por aí com esse objeto, como um outdoor gratuito da empresa. Além disso, outro aspecto que tem sido bastante explorado é o cashback, que dá dinheiro de volta ao consumidor”.
VOCÊ PRECISA DO PRODUTO?
O professor da FECAP também afirma que o consumidor deve refletir se realmente precisa do produto que está interessado em comprar.
Os varejistas e profissionais de marketing sabem influenciar o consumidor para gerar desejo nas pessoas, mesmo sem elas necessitarem de fato do produto ou serviço. Atualmente, o consumo vai muito além da simples satisfação de necessidades, chegando até a se aproximar do que se chama de ‘ato sagrado’. Isso é evidente quando vemos pessoas acampando na porta de um estádio, dias antes do evento, ou formando filas enormes no dia de lançamento de um celular novo. O produto ou evento é quase um talismã e provoca essa espécie de ‘peregrinação’ do consumidor em busca de sua satisfação.
“Isso ocorre, pois o consumidor, na verdade o ser humano, é facilmente influenciado por estímulos sensoriais como cores, cheiros, temperatura, até pela iluminação das lojas. Os vieses cognitivos e a racionalidade limitada também causam impactos nas decisões de compra, e as empresas fazem o possível para se beneficiar disso. Os gatilhos mentais, por exemplo, costumam funcionar bastante. Um deles é o da escassez ou do imediatismo. Você não precisa, mas ao ser impactado por uma promoção em que você leva três detergentes, e paga dois, por exemplo, você acaba antecipando a compra. Poucas pessoas param para refletir e racionalizam: ‘Será que preciso mesmo? Será uma vantagem para mim?’ Se você parar para pensar quanto tempo vai levar para consumir esses produtos e sobre a antecipação de gasto, talvez perceba que a economia não vale a pena. É uma ilusão.”
QUANDO VALE A PENA APROVEITAR UMA PROMOÇÃO?
Se a promoção for, de fato, honesta, tanto para o consumidor quanto para o lojista, ela vale a pena. O consumidor deve ficar de olho à data de validade (se for um produto perecível), ou uma referência de quanto as empresas cobravam pelo produto antes da promoção, fazendo buscas em concorrentes confiáveis ou o histórico de preços do item.
“Não adianta comprar, por exemplo várias caixas de leite com bom preço, mas perto da validade, pois é possível que você perca o produto e o valor investido, por não conseguir consumir tudo a tempo. Além disso, tente descobrir se a empresa não aumentou os preços dias ou semanas antes da Black Friday, para dar um falso desconto durante a liquidação.”
Segundo o professor, toda promoção justa e que ajude o consumidor a adquirir um produto ou serviço com bom valor, vale a pena. Mas, se você for consumista, fique atento a gatilhos usados pelo mercado, como as palavras “promoção” e “oferta”, para assim evitar comprar por impulso produtos que você não precisa, nem vai usar.
Outra dica é em comprar com desconto coisas que têm valores mais elevados. Por exemplo: um iogurte de R$ 10 com desconto de 20% não faz tanta diferença no bolso; mas um produto de R$ 2000, com 20% de desconto tem um impacto muito maior.
Tenha atenção a brindes e promoção exclusivos e colecionáveis, pois se você for muito fã da marca, ou aquela compra tenha um valor emocional, vale a pena aproveitar, pois a oportunidade pode ser única.
JOVEM É MAIS INFLUENCIÁVEL
Segundo o especialista, não há como traçar um perfil do consumidor mais consumista ou compulsivo, visto que as pessoas têm gostos e desejos diferentes. Uma pessoa pode gostar muito de sapatos e gastar mais com esse tipo de produto, por exemplo. Contudo, de modo geral os jovens são o perfil mais “influenciável”. Muitos ainda não têm responsabilidades financeiras de aluguel, contas de água e luz, escola dos filhos e o dinheiro acaba sendo consumido de forma mais supérflua.
“Se pensarmos no ambiente digital, então, os jovens são impactados de forma maior. Até por que o tempo médio que passam em redes sociais é bastante alto, supera uma média diária de 10 horas na frente de uma tela. Além disso, o jovem não tem educação financeira e costuma fazer coisas por impulso institivamente. Já um público mais velho, que tem obrigações e ganha o próprio dinheiro, tende a ser mais comedido. Mas isso não é uma regra absoluta.”
LOJAS FÍSICAS OFERECEM ARMADILHAS
Já quando se trata de comércio físico, a tendência é que tanto jovens quanto idosos comprem coisas sem necessitar delas. E alguns fatores também influenciam a compra por impulso em lojas físicas: as crianças têm papel de influência forte nas decisões de compra; e o cartão de crédito é um grande vilão das famílias, porque o comprador não “vê” essa dívida na hora de comprar e ainda pode parcelar. Além disso, se você estoura um cartão de crédito, facilmente pode aderir a outro, de outra bandeira, banco ou até das próprias lojas varejistas.
“Na maioria das lojas que tem caixas, como as departamento, são cada vez mais comuns as filas únicas, onde são criados corredores com produtos, que acabam influenciando uma compra sem necessidade. São as compras por impulso. Quem nunca acabou comprando algo de última hora, pois foi impactado enquanto estava na fila de uma loja? Com os produtos ali, ao alcance das mãos, você compra sem nem mesmo raciocinar.”
CUIDADO COM O ORÇAMENTO
O especialista orienta os “gastadores” a montar uma planilha – seja em uma planilha eletrônica, aplicativo ou papel – para anotar os gastos, ou usar aplicativos para enxergar o quanto está gastando: quanto você ganha, quais as suas receitas, quais os seus gastos, quais variantes de gastos você pode ter (um caso de doença, por exemplo)? Esse controle ajuda o consumidor a não se endividar e definir prioridades de compras, evitando os gastos por impulso que prejudicarão o orçamento.
“A principal dificuldade das pessoas com relação à educação financeira é que elas não sabem onde e como estão gastando. A maior parte do endividamento das pessoas não ocorre por ganharem pouco, mas por gastarem mal. Isso se evidencia quando as pessoas são promovidas e passam a ganhar mais, mas continuam a se endividar”.
Fique atento para não se endividar, pensando que compras parcelas podem, no futuro, competir com despesas e contas fixas, como aluguel, matrícula escolar, água, luz e telefone, para não comprometer o seu orçamento.
ANTECIPE AS COMPRAS DE NATAL
Se o consumidor está pensando em antecipar as compras para o Natal, esse pode sim ser um bom momento para comprar com economia. “A não ser que você não tenha onde guardar o presente para a pessoa que você ama, para não estragar a surpresa”.
O especialista: Roberto Flores Falcão é Doutor e mestre em Administração de Empresas pela FEA/USP, especialista em Direito Civil e Direito do Consumidor pela Escola Paulista de Direito (EPD), e pós-graduado em Marketing e Design. É Coordenador do MBA em Gestão de Negócios da FECAP. Tem longa experiência em administração de negócios, com destaque para a atuação no varejo, empreendedor, e atua como palestrante e consultor na área de estratégia, marketing e gestão de serviços. É autor de livros e possui diversos artigos sobre empreendedorismo, administração de pequenos negócios, marketing e comportamento do consumidor.
Sobre a FECAP
A Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) é referência nacional em Educação na área de negócios desde 1902. A Instituição proporciona formação de alta qualidade no Ensino Médio (técnico, pleno e bilíngue), Graduação, Pós-graduação, MBA, Mestrado, Extensão e cursos corporativos e livres. Diversos indicadores de desempenho comprovam a qualidade do ensino da FECAP: nota 5 (máxima) no ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e no Guia da Faculdade Estadão Quero Educação 2021, e o reconhecimento como melhor centro universitário do Estado de São Paulo segundo o Índice Geral de Cursos (IGC), do Ministério da Educação. Em âmbito nacional, considerando todos os tipos de Instituição de Ensino Superior do País, a FECAP está entre as 5,7% IES cadastradas no MEC com nota máxima.