Jovens transformam cigarros eletrônicos apreendidos em kits de robótica para escolas públicas

Um grupo de jovens de Bauru (SP) desenvolveu um protótipo de um projeto que busca transformar cigarros eletrônicos apreendidos em kits de robótica voltados ao uso educacional em escolas públicas.

A iniciativa é do grupo SambaCode, formado por quatro estudantes e um professor orientador, e propõe ressignificar materiais que normalmente seriam descartados, dando a eles uma nova função ligada a educação, sustentabilidade e tecnologia.

Raul Gonçalves Figueiró, estudante do ensino médio da rede pública e responsável pela comunicação do grupo, explica que a proposta nasceu da vivência cotidiana dentro da escola.

“A gente percebeu, como aluno, a dificuldade que professores têm para trabalhar robótica, programação e cultura maker por falta de recursos. Isso sempre esteve muito presente na nossa realidade”, afirma.

A ideia começou a tomar forma durante o Hackathon da Receita Federal, competição que desafiava participantes a criarem soluções a partir de mercadorias apreendidas pelo órgão. Segundo Raul, o desafio ajudou a direcionar o projeto para um problema concreto.

“Precisávamos construir uma proposta que fosse competitiva, mas que também tivesse impacto social real. Foi aí que surgiu a convergência entre o desafio do Hackathon e a carência de materiais nas escolas públicas”, explica.

Durante as pesquisas, o grupo identificou que muitos cigarros eletrônicos apreendidos possuem componentes ainda funcionais.

“São dispositivos associados a riscos à saúde, mas que carregam baterias, fios, LEDs e pequenos circuitos que podem ser reaproveitados. A motivação foi justamente transformar algo negativo em uma ferramenta pedagógica”, resume Raul.

Da apreensão ao aprendizado

O projeto prevê um processo cuidadoso de triagem e desmontagem dos cigarros eletrônicos, sempre com orientação técnica.

Cada componente é analisado individualmente antes de ser reutilizado. As baterias de íon-lítio passam por testes e só são reaproveitadas quando atendem a critérios de segurança, sendo destinadas a circuitos de baixa potência, adequados ao ambiente escolar.

Outros materiais, como fios, conectores, LEDs, resistores, sensores simples e pequenos motores, são reorganizados em módulos didáticos.

A proposta é que esses módulos permitam que crianças e estudantes do ensino básico tenham contato inicial com conceitos de eletrônica, lógica e automação de forma prática e lúdica.

Materiais que não atendem aos critérios de segurança ou não têm aplicação pedagógica são encaminhados para descarte ambientalmente adequado.

“O impacto vai além da sala de aula. A gente reduz o lixo eletrônico, evita o descarte irregular de baterias altamente poluentes e ainda impede que esses dispositivos voltem para o mercado ilegal. Ao mesmo tempo, promove educação tecnológica e consciência ambiental desde cedo”, explica Raul.

Atualmente, o projeto está em fase de estruturação e validação. Os kits estão sendo pensados especialmente para a educação infantil e o ensino básico, com foco em escolas públicas que não dispõem de laboratórios de robótica.

Além disso, o grupo trabalha na criação de materiais de apoio para professores e em uma plataforma online que funcione como uma comunidade para compartilhamento de projetos, ideias e experiências.

A equipe do SambaCode é formada por Raul Gonçalves Figueiró, responsável pela comunicação e produção audiovisual; João Mariano, programador e técnico de hardware; Vinícius Crispim, designer e criador dos modelos 3D dos kits; Vinícius Bertuzzo, professor e idealizador da proposta pedagógica; e Thiago Stefanin, professor orientador e articulador de parcerias.

O reconhecimento mais recente veio com a classificação do projeto como finalista do Prêmio LED, da Globo, que valoriza iniciativas de inovação educacional com impacto social e protagonismo jovem. Para Raul, a indicação reforça o propósito do grupo.

“Nosso objetivo é mostrar que é possível unir tecnologia, cidadania e transformação social a partir da escola pública. A gente quer que esses kits sejam uma porta de entrada para que mais crianças se sintam parte do mundo da ciência e da inovação”, finaliza.


Fonte Original: G1 Bauru e Marília

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