‘Militar, dono de circo e pastor’: biografia narra a história de Nho Pai, poeta do clássico sertanejo ‘Beijinho Doce’

Obra que conta história do artista, nascido em Paraguaçu Paulista (SP), será lançada neste sábado (27) com renda revertida para causa social.

Nho Pai, compositor de “Beijinho Doce” nasceu em Paraguaçu Paulista — Foto: Reprodução

O clássico sertanejo “Beijinho Doce”, eternizado nas vozes das Irmãs Galvão, tem compositor igualmente nascido em Paraguaçu Paulista (SP), mas com uma trajetória pouco conhecida.

João Alves dos Santos, mais conhecido como Nho Pai, começou a escrever músicas enquanto servia ao Exército, virou dono de circo e terminou a vida como pastor e fundador de igrejas. Essa história será contada pela primeira vez em uma biografia, lançada neste sábado (27), durante a Expo Paraguaçu, em Paraguaçu Paulista.

A obra é resultado da pesquisa dos escritores Ramon Barbosa Franco e Ana Carolina Santiago, que mergulharam em documentos e relatos para reconstruir a vida do artista. O projeto foi financiado pela Lei Aldir Blanc.

“Até então não havia nada escrito sobre ele. Existiam apenas artigos soltos, mas não uma síntese da história dele. Nós descobrimos em Paraguaçu um morador que conviveu com Nho Pai, está com 99 anos, seu Orlandinho do esporte”, contou Ramon, em entrevista ao g1.

Militar, dono de circo e pastor evangélico

João Alves dos Santos nasceu em 1912, quando Paraguaçu Paulista ainda não era município. A região era um distrito que pertencia à Conceição de Monte Alegre.

Rua Nho Pai em Paraguaçu Paulista (SP) — Foto: Ramon Franco/Divulgação

Por isso, embora tenha vindo ao mundo na zona rural que hoje pertence a Paraguaçu, foi registrado oficialmente em Conceição de Monte Alegre, onde ficava o único cartório da região.

Sua obra mais conhecida é “Beijinho Doce”, mas Nho Pai foi autor de mais de 80 composições gravadas e teve papel central na consolidação da música sertaneja. Ele também é apontado como criador do rasqueado, estilo que mistura polca e guarânia paraguaias com ritmos brasileiros.

“Nas horas vagas do Exército, na fronteira do Brasil com o Paraguai, ele atravessava para o país vizinho e começou a absorver o jeito de tocar viola e violão dos paraguaios. Foi aí que surgiu o rasqueado, estilo cuja origem é atribuída a ele”, explica Ramon.

De volta ao interior de São Paulo, Nho Pai se destacou como empresário circense. Seus circos foram palco para artistas que depois se tornariam referência da música caipira, como Léo e Léo e Jacó e Jacózinho.

“Os circos eram o espaço que muitos cantores tinham para se apresentar e se conectar com o público”, disse o biógrafo.

Em 1965, no auge da carreira, Nho Pai decidiu abandonar a vida artística. Vendeu os circos, deixou de cantar e se converteu ao evangelho. Passou a se dedicar integralmente à pregação e fundou uma igreja em Marília (SP).

Igreja Presbiteriana fundada por Nho Pai em Marília (SP) — Foto: Ramon Franco/Divulgação

“Depois disso, as pessoas que cruzaram com ele não o viram em shows ou rodas de viola, mas em cultos e pregações”, disse Ramon.

Nho Pai morreu em 1988, já como pastor.

Durante a pesquisa, os autores descobriram informações inéditas. Embora fosse dado como sepultado em Paraguaçu Paulista, a certidão de óbito revelou que Nho Pai está enterrado em um cemitério da capital paulista.

Campanha de lançamento

A biografia “Nho Pai, o poeta de Beijinho Doce” será lançada neste sábado (27), às 19h, na Tenda da Associação dos Escritores de Paraguaçu, durante a Expo Paraguaçu.

O livro tem o valor de R$ 30, e toda a renda será revertida para a campanha “Salve Felipe”, que arrecada fundos para o tratamento de um menino de Paraguaçu Paulista com Distrofia Muscular de Duchenne.

Biografia conta a história de Nho Pai, poeta do clássico sertanejo ‘Beijinho Doce’ — Foto: Ramon Franco/Divulgação

Fonte: G1