Cirurgia aconteceu em três horas e meia após oferta do órgão, enquanto a TV TEM gravava série jornalística. Paciente já estava pronto no centro cirúrgico.
Um transplante mobilizou em tempo recorde a equipe médica de um hospital de Sorocaba (SP) enquanto a série de reportagens “Amor que salva”, da TV TEM, era gravada. O paciente foi avisado, foi ao hospital e já estava pronto no centro cirúrgico quando o órgão chegou, após três horas e meia da oferta.
Foi um momento único para nós. Eu, que já passei por isso, nunca imaginei toda essa correria no dia do meu transplante.
— Mayara Corrêa
Nesta série de reportagens da TV TEM, apresentada pela jornalista Mayara Corrêa, que é transplantada, conheça como um “sim” pode mudar a vida de alguém por intermédio do Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos.

Transplante de fígado mobilizou em tempo recorde a equipe médica de um hospital de Sorocaba (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM
Enquanto a reportagem era gravada no Hospital Unimed Sorocaba, surgiu a oferta de um fígado. Do momento da ligação até a chegada do órgão, passaram-se três horas e meia. Nesse intervalo, o paciente foi avisado, chegou ao hospital e a equipe se organizou para a cirurgia. Quando o carro da Central de Transplantes estacionou, o paciente já estava pronto no centro cirúrgico.
A movimentação que hoje é intensa quase parou em 2020, com o início da pandemia de coronavírus no Brasil. Na época, os transplantes foram diretamente afetados: faltavam leitos nos hospitais e as doações de órgãos caíram drasticamente.
Em 2019, o Banco de Olhos de Sorocaba realizava cerca de 180 transplantes de córnea por mês. Em abril de 2020, esse número caiu para apenas sete. Com isso, a fila de espera cresceu e a chance de cirurgia ficou mais distante para milhares de pacientes.
Em 2025, mais de 33 mil pessoas aguardam por transplantes de córnea no Brasil. Em Sorocaba, o Banco de Olhos voltou ao ritmo de cirurgias que tinha antes da pandemia — e bateu recorde. Em julho, foram realizados 296 transplantes de córnea, o maior número da história da instituição.
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Edil Vidal de Souza, superintendente do Banco de Olhos de Sorocaba — Foto: Reprodução/TV TEM
Edil Vidal de Souza, superintendente do Banco de Olhos de Sorocaba, explica como foi possível alcançar o recorde e comenta os desafios enfrentados desde o início da pandemia.
“Nós tivemos que redesenhar todos os nossos processos e conseguimos superar isso. Diferentemente do resto do país, nós conseguimos achar uma saída, mudamos o perfil dos profissionais que atuavam, eles passaram a trabalhar mais por produção. Um caminho que deu certo e está sendo replicado. Através da telemedicina agilizamos muito os atendimentos de quem precisa fazer essa avaliação, porque atendemos pacientes do país todo”.
Angústia e esperança
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Mayara Corrêa precisou de transplante de fígado por causa de uma doença autoimune chamada colangite — Foto: Reprodução/TV TEM
A angústia de quem espera por um transplante começa no momento em que o paciente recebe a notícia de que precisa do procedimento para sobreviver.
No meu caso, a indicação veio após os medicamentos não conseguirem controlar uma doença autoimune chamada colangite. Minha pele ficou amarelada, um sinal típico de problemas hepáticos. Glauco Perticarrari, cirurgião especializado em transplante de fígado, foi quem me deu a notícia de que eu precisaria entrar na lista. Lembro do quarto, da conversa, do cuidado. E como é para o médico transmitir essa notícia?
“Dar essa notícia é sempre emocionante. Ela traz esperança, mas também ansiedade e muitas dúvidas. O paciente sabe que vai enfrentar uma cirurgia complexa, depender de uma lista e do gesto altruísta de alguém que decidiu doar. É um momento delicado, mas necessário. Porque, quando chegamos a esse ponto, a doença já está comprometendo a qualidade de vida e colocando a vida em risco”, responde Glauco.
Todos os pacientes transplantados com quem conversei — e também os que ainda esperam — destacam a importância do acompanhamento psicológico. No meu caso, esperei quase quatro meses e contei com o apoio da psicóloga Driéli Fernanda, da equipe multidisciplinar. Ela e meu marido foram as primeiras pessoas que vi ao acordar da cirurgia.
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Mayara e a psicóloga Driéli Fernanda — Foto: Reprodução/TV TEM
“Num primeiro momento, o paciente lida com a frustração: ‘Por que comigo? O que fiz de errado?’”, explica Driéli. “Ninguém está preparado para receber um diagnóstico grave. A psicologia entra justamente nesse processo de aceitação.”
Ela conta que, depois da entrada na fila, surgem outros desafios: a espera, a perda de autonomia, a mudança na autoimagem. “Não sabemos quando o órgão vai chegar. Só temos esperança de que seja logo.”
Em uma conversa, Driéli me perguntou: “Você já parou para pensar que vai receber o órgão de alguém? O que acha disso?” Respondi que não queria pensar. Ela insistiu: “Você precisa refletir sobre isso. Muitos pacientes acreditam que alguém precisa morrer para que o transplante aconteça. Mas com você, aprendi que não é bem assim.”
“Em algum momento, esse pensamento aparece: ‘Estou desejando um órgão… então estou desejando que alguém morra?’”, diz a psicóloga. “Mas não sabemos quando o nosso momento vai chegar. Não está sob nosso controle. Aquela pessoa quis doar, quis salvar uma vida. Ou a família decidiu doar para ajudar alguém.”
Ela completa: “A perda é irreparável, mas o coração se aquece ao saber que outra pessoa vai viver com o órgão de alguém tão amado que partiu.”
Referência
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Carlos Alberto Caniello, diretor do Hospital Unimed Sorocaba – Miguel Soeiro — Foto: Reprodução/TV TEM
Transplantes são cirurgias complexas, que exigem estrutura adequada e equipes altamente qualificadas. Quando o órgão implantado não funciona, o paciente é mantido na UTI com suporte de aparelhos e passa a ser prioridade nacional na lista de espera.
No Hospital Unimed Sorocaba – Miguel Soeiro, são realizados seis tipos de transplantes: fígado, rim, córnea, medula óssea e músculoesquelético. Em número de transplantes de fígado, o hospital fica atrás apenas do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
“Trabalhamos com qualidade e tecnologia, mas o diferencial está na assistência. Temos médicos altamente qualificados, profissionais de enfermagem e uma equipe multidisciplinar preparada para realizar transplantes com excelência”, destaca o diretor Carlos Alberto Caniello.
❤️🏥 Amor que salva
- Reportagem e apresentação: Mayara Corrêa
- Imagens: Fábio Modesto
- Edição de imagem: Mônica Silva
- Edição de arte: Mariele Santos
- Edição de texto web: Eric Mantuan